domingo, 1 de maio de 2016

Páginas de uma Viagem (Paullina Simons)

Quase a entrar para a universidade e com uma nova fase da vida à porta, Chloe e Hannah estão prestes a realizar o seu grande sonho de ir a Barcelona. Mas uma sucessão de acasos torna esse sonho um pouco diferente. Primeiro, são os namorados das duas que decidem juntar-se-lhes, em busca de uma história. Depois, a única maneira de os pais de Chloe aceitarem essa viagem é que Chloe faça a vontade à avó - o que significa um longo desvio pela Europa de Leste. E, assim, os quatro amigos vêem-se a percorrer a Europa de comboio, entre queixas, frustrações e descobertas. A maior das quais, na figura de um estranho e descontraído jovem com o peculiar nome de Johnny Rainbow, pode ser o princípio de uma outra viagem - essa interior - que lhes mudará as vidas para sempre. 
Bastante extenso e com um percurso por vezes tão tortuoso como o da viagem dos protagonistas, este é um livro que surpreende pela forma como equilibra a quase leveza da narrativa com as muitas tribulações que surgem no caminho dos protagonistas. Há momentos de tensão, descrições muitíssimo marcantes e uma viagem de adolescentes que, como não podia deixar de ser, implica todo o drama e fúria adolescentes das amizades e amores em mudança. E a forma como a autora constrói é tão interessante precisamente por isso. É que nem sempre é fácil gostar das personagens ou compreender as suas atitudes - mas há algo nas suas imperfeições que as torna cativantes.
É verdade que todas as personagens têm o seu lado cativante, bem como uma faceta mais egoísta. E também este retrato que conjuga o bom e o mau das personagens contribui para lhes conferir mais realismo. Ninguém nesta história é perfeito - longe disso. Mas também na vida real ninguém é perfeito. E, nos grandes momentos, nas verdadeiras revelações, as imperfeições fazem sobressair as qualidades, dando origem a momentos particularmente belos.
Mas, se todas as personagens têm em si algo de interessante, já Johnny Rainbow é fascinante em praticamente tudo. E não é que isso o torne menos imperfeito - os mistérios da sua presença e de cada um dos seus actos revelam muita dessa mesma imperfeição - , mas há algo de encantador na forma como entra na vida de Chloe e no papel que acaba por desempenhar no seu caminho. E essa beleza, esse estranho fascínio, essa aventura que abre portas a tantas revelações, é também parte do que torna a história tão envolvente - e o final tão intenso.
E depois há elementos da viagem que, ocupando um papel mais ou menos discreto, acrescentam seriedade à leveza dos momentos mais adolescentes. A descrição de Treblinka, em particular, é muitíssimo impressionante, levantando todo um conjunto de questões importantes, ao mesmo tempo que põe em perspectiva os pequenos grandes dilemas dos protagonistas.
A soma de tudo isto é um livro longo, mas que nunca deixa de cativar, com uma história em que as personagens são humanas e complexas e falíveis - como na vida - mas em que, de cada momento, é possível retirar uma pequena lição. Vale muito a pena esta viagem, portanto. Mesmo muito.

Título: Páginas de uma Viagem
Autora: Paullina Simons
Origem: Recebido para crítica

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