Desde que descobriu a sua peculiaridade, Jacob mal teve tempo de assimilar a teia de enigmas em que, sem querer, se envolveu. E as coisas não estão prestes a ficar mais calmas. A Senhora Peregrine foi raptada e eles conseguiram recuperá-la - mas agora ela não consegue voltar à sua forma humana, e as crianças peculiares precisam de encontrar ajuda. Mas os errantes e os sem-alma estão em todo o lado. A única pista que têm aponta para Londres, mas, para lá chegar, precisam de evitar não só os errantes, mas também as vicissitudes da guerra em curso no tempo em que agora se movem. Peculiares e poderosos, não são, ainda assim, invulneráveis - mas não há alternativa. Para salvarem a Senhora Peregrine, precisam de enfrentar os perigos que os esperam ao longo do caminho. E o tempo está a esgotar-se para todos eles...
À semelhança do sucedido com o volume anterior, este é um livro que prende, em primeiro lugar, pelo aspecto visual. As muitas e invulgares fotografias que surgem a acompanhar a história chamam desde logo a atenção para um enredo que promete mistérios - e que os apresenta, de facto. E, além de funcionarem em si mesmas como um aspecto apelativo, reforçam e muito a aura misteriosa que parece acompanhar toda esta série, dando rostos às personagens e uma paisagem aos vários locais por onde estas se movimentam.
Sendo certo que é este o primeiro aspecto a cativar, também o é que está muito longe de ser o único. E, mais uma vez, volto ao mistério para referir o que parece ser um delicado equilíbrio entre continuidade e evolução. Continuidade, pois continua a acompanhar a mesma história e as mesmas personagens do volume anterior. Evolução, pois prossegue com a expansão que começava já a notar-se na fase final do primeiro livro, expandindo a história, as lendas e o modo de vida dos peculiares a um mundo muito mais vasto e complexo do que à primeira vista seria de esperar.
E há muito para descobrir neste estranho mundo, desde os vários tipos de peculiaridade, aos planos e intenções dos errantes, passando pelas possíveis ligações entre ambos e ao tipo de coisas que são capazes de fazer. Mas, além deste fascinante mundo peculiar, também a forma como ele é desenvolvido cativa: ao ritmo de um enredo que é uma corrida contra o tempo e em que há sempre uma reviravolta à espera de acontecer. A curiosidade surge facilmente e, a cada nova revelação, o fascínio cresce. E tanto mais porque, além dos perigos, das descobertas e da necessidade premente de agir, há também neste enredo um conjunto de situações caricatas e emotivas que lhe conferem uma maior intensidade.
Tudo somado, a imagem que fica deste Cidade sem Alma é a de uma evolução notável a partir de um primeiro livro já muito bom. Intenso, misterioso, surpreendente, eleva ainda mais a fasquia para o que virá a seguir. E fica na memória, quer pela história, quer pelas personagens que a povoam. Recomendo.
Título: Cidade sem Alma
Autor: Ransom Riggs
Origem: Recebido para crítica
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