Os espinhos ensinaram-no a odiar na noite em que uma emboscada lhe levou, aos nove anos, a mãe e o irmão mais novo, deixando a sangrar preso num espinheiro. Esse dia, despertou-lhe o desejo de vingança e levou-o à companhia de criminosos - e ao primeiro passo rumo ao seu papel no grande jogo do império. Quatro anos depois, Jorg Ancrath vê-se ante a possibilidade de voltar a casa e a um pai que trocou as vidas da sua mãe e do seu irmão por um acordo vantajoso. O ódio não morreu. A vingança continua a correr-lhe nas veias. Mas o pai, esse, arranjou outra rainha - e um herdeiro que lhe é mais agradável. O Rei Olidan não quer o filho de volta - quer vê-lo morto. Mas Jorg não está disposto a fazer-lhe a vontade.
Narrado na primeira pessoa por um protagonista tão tortuoso como a sua própria história, este é um livro que surpreende e fascina, em primeiro lugar, pelo ambiente absurdamente negro. O império destruído é um lugar de morte e intriga constante, casa de reinos, cavaleiros, mercenários e magos, mas com laivos de um passado que bem poderia ser o futuro do mundo que conhecemos. É também um lugar de grandes conjuras e muito poucos escrúpulos. E isso reflecte-e, em todos e cada passo do protagonista. Jorg está muito - mesmo muito - longe de ser a imagem ideal de um herói. Nem pretende sê-lo, aliás. Aos treze anos, é de uma crueldade sem tréguas, capaz de todas as atrocidades e de sacrificar seja o que for para servir os seus propósitos. E porém... é esta figura sombria, retorcida, quase que de vilão, que acaba por despertar uma empatia inesperada nos momentos certos. Cruel e tenebroso como só ele pode ser, Jorg é, apesar disso, incrivelmente humano quando confrontado com as suas fraquezas e com o passado que o moldou. E isso, associado a uma estranha lealdade da parte dos seus companheiros - e à ainda maior falta de escrúpulos do seu adversário - cria um base estranhamente emocionante para uma história toda ela feita de crueldades.
Mas olhemos para além de Jorg. Também o mundo em que se move, as personagens com que se cruza e, principalmente, a teia de intrigas em que se vê envolvido, são feitos de um delicado equilíbrio de trevas e fascínio. O mundo, com os seus muitos mistérios e a dureza de regras (ou falta delas) que permitem o tipo de atrocidades que moldaram a vida do protagonista. As outras personagens, com tudo aquilo que são capazes de fazer (tanto em termos de crueldade como de capacidades intrínsecas). E o enredo, cheio de momentos intensos, de revelações inesperadas, de planos suicidas e soluções surpreendentes. Tudo isto se conjuga numa história de emoções fortes, capaz de marcar tanto pela máxima brutalidade como pelo laivo de vulnerabilidade que se insinua na mais simples das conversas. E o melhor de tudo? É que este livro é apenas o início de uma história que promete ainda muito mais.
Com um mundo repleto de sombras e de contrastes e personagens à altura do mundo em que se movem, é fortíssima a base em que assenta este Príncipe dos Espinhos. O resultado, esse, é mais que claro: um muito promissor início para uma história de potencial ainda mais vasto. E um livro que, intenso e sombrio desde as primeiras páginas, não deixa de surpreender até ao fim. Recomendo.
Título: Príncipe dos Espinhos
Autor: Mark Lawrence
Origem: Aquisição pessoal
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