A Fiona tinha uma vida perfeitamente normal, até ao dia em que decidiu adotar a Lucy e o Fera. A Lucy é uma gatinha tímida e ternurenta. Já o Fera é obcecado por comida e transborda de mau-feitio. Mas não são dois gatos normais e, além de muito mais pelo nas roupas da Fiona, trouxeram também sarcasmo, ternura e um ou outro laivo de sabedoria, numa visão muito simples, mas muito certeira da atualidade. Em que cada pequeno episódio pode ser uma revelação.
Um bom ponto de partida para falar sobre este livro é o equilíbrio entre simplicidade e precisão. Composto todo ele por pequenos episódios, é feito, em grande medida, de momentos simples, alguns inesperados, outros capazes de dar formas novas a ideias já conhecidas. Mas é, acima de tudo, muito certeiro na sua visão do quotidiano, quer seja nas relações amorosas, na vida profissional, na correria - ou na preguiça, no caso do Fera - do dia-a-dia e até na nova normalidade do coronavírus. É tudo muito conciso, mas também muito exacto, e até as referências que já conhecemos ganham outro tom ditas por estas personagens.
O que me leva a outro aspecto: a leveza. Em parte pela simplicidade das ilustrações, e em parte também por ter os protagonistas que tem, tudo neste livro parece ser leve e descontraído. Não há situações complexas, os dramas são naturais e a mistura entre ternura e sarcasmo atinge um equilíbrio praticamente perfeito. É verdade que não há grande imprevisibilidade, mas às vezes também não é precisa. E, numa história - ou conjunto de histórias, talvez - sobre um quotidiano em mudança, até é saudável que haja uma certa dose de previsibilidade.
Simples, leve e certeiro, trata-se, em suma, de um livro muito divertido. Uma história de gatos que não é propriamente sobre gatos e um olhar sobre a vida que, carregadinho de sarcasmo e também de descontração, mostra que a normalidade nem sempre é tão aborrecida como parece.
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