domingo, 23 de maio de 2021

O Paciente (Jasper DeWitt)

Apesar da sua relativa juventude, ou talvez em parte devido a ela, o jovem psiquiatra Parker H. tem grandes ideais em mente. Espera fazer a diferença na vida dos seus pacientes, algo que não aconteceu com a sua própria mãe, esquecida nos meandros do sistema. Mas as aspirações de Parker têm pela frente um adversário poderoso, pois o hospital psiquiátrico onde acaba de começar a trabalhar tem internado há anos um doente cujo caso é inexplicável. Joe parece mudar de sintomas de forma incompreensível e, pior do que isso, parece despertar sintomas nas pessoas que dele cuidam, ao ponto de ter levado já membros do pessoal ao suicídio. Mas Parker não é de desistir e, confiante na sua inteligência, decide tomar conta do caso, sem saber que tudo aquilo em que acredita pode muito bem estar prestes a desabar com estrondo.
Provavelmente o aspeto mais marcante desta história, e também uma das razões por que não posso dizer muito sobre ela sem estragar possíveis surpresas, é a constante sucessão de voltas e reviravoltas que define todo o enredo. Tudo começa com um grande mistério, que vai dando lugar a suspeitas, teorias, ao que parece ser possibilidades gritantes, seguidas pela tomada das acções possíveis e pela descoberta de que nada é exatamente aquilo que parecia ser. E isto acontece várias  vezes, de formas diferentes, explorando meandros distintos e abrindo portas a novas possibilidades, que serão, por sua vez, confirmadas... ou não. Num livro de sensivelmente duzentas páginas, é realmente impressionante a capacidade de abranger uma viagem tão longa sem que nada pareça demasiado apressado, numa história que é, no fundo, um quebra-cabeças complexo e viciante onde as explicações vão ficando cada vez mais negras.
Além do enredo propriamente dito, também a própria voz com que a história é contada contribui para tornar a leitura viciante. É Parker quem narra a sua história, o que cria uma maior proximidade, pois as suas emoções e perplexidades parecem transbordar da página. Além disso, esta proximidade com o protagonista faz com que os grandes momentos se tornem ainda mais intensos, sobretudo se tivermos em conta a forma como tudo termina.
E, por falar em como tudo termina, importa referir alguns aspectos sobre o fim. Não podendo revelar qual é, obviamente, existem, ainda assim, duas facetas que importa destacar: primeiro, que, embora não dando respostas para tudo, dificilmente se poderia pedir um final mais adequado ao ambiente de horror e de mistério que se vai adensando ao longo de todo o livro; e segundo, que há pequenas (e premeditadas) pontas soltas que se entranham na imaginação do leitor, deixando no pensamento a dúvida sobre o que poderá ter acontecido a seguir.
Não é particularmente longo, e, ainda assim, não falta nada a este livro. Intensidade, horror, mistério, emoção, dúvida - de tudo isto é feita esta história sombria e intrigante, que prende desde as primeiras linhas e fica no pensamento bem depois do fim. Uma poderosa história sobre os monstros que imaginamos - e outros que se infiltram na imaginação.

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