De um rito místico concebido para combater os dragões, que viam a humanidade como presa, nasceram os Dragomantes. No sangue, corre-lhes um fogo que lhes permite domar um dragão e estabelecer com ele um vínculo inquebrável, e também uma destreza inigualável que os torna imbatíveis, mas talvez um pouco menos humanos. E é por isso que cada Dragomante tem de ter um escudeiro para o ancorar à humanidade. Nereila, a primeira mulher Dragomante em muito tempo, acaba de completar o seu treino e tem uma missão delicada pela frente. Pois o orgulho do pai deixou-lhe um inimigo de herança, que tudo fará para destruir tudo o que ela ama. Mas o mais difícil de tudo pode muito bem ser controlar o seu fogo interior...
Um dos aspetos mais impressionantes deste livro - além da arte prodigiosa, obviamente - é a forma como, apesar de relativamente breve, consegue apresentar um mundo tão vasto. Claro que está longe de nos dizer tudo, até porque se trata de um primeiro volume, mas diz muito, sobre os ritos, sobre os locais, sobre os sistemas de poder e sobre as relações entre personagens. Não falta informação neste primeiro contacto com este mundo, e informação interessante, intrigante e exposta de forma natural, sem tornar o ritmo demasiado parado nem abrandar a intensidade do enredo (que é, aliás, de ritmo furioso).
Outro elemento notável é a arte que, como já disse, é prodigiosa. A expressividade das personagens é notável, sobretudo no caso de Nereila, os cenários são fascinantes, as sequências de ação estão carregadinhas de movimento e não faltam pormenores a sobressair, por exemplo, na indumentária das personagens. Apesar de ser um livro com bastante texto - o que é, de certo modo, inevitável ao começar a apresentar um novo mundo - a parte visual fala eloquentemente. E fica a sensação de que ambas as facetas - texto e imagem - se entrelaçam num equilíbrio perfeito.
Voltando ao enredo, escusado será dizer que ficam muitas perguntas sem resposta, como é natural, sendo um primeiro volume. Mas também aqui há um bom equilíbrio entre o muito que é revelado e o possivelmente muito mais que fica por dizer. Há desenvolvimentos marcantes, momentos de ação e de emoção, espaço para algum humor e uma fase da história que parece ficar encerrada, abrindo caminho para novas etapas. É um primeiro volume, sim, e a história está longe de ter terminado. Mas parece ter-se interrompido num ponto muito adequado.
Visualmente deslumbrante, com um mundo muitíssimo interessante e uma história que parece ter apenas começado, mas a que não faltam já momentos marcantes, trata-se de um belo início para o que promete ser uma aventura memorável. Muito bom.
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