Na sequência da derrota que lhes custou o trono imperial, todos os membros da dinastia Khelek, bem como os seus aliados, foram enviados para Tazma, uma prisão numa lua abandonada. Seguiram-se sessenta e cinco anos de sofrimento, miséria e morte, longe dos olhos de todos e sem esperanças de libertação. Mas isso está prestes a mudar. Primeiro, geram-se tensões entre os prisioneiros, causando o colapso da relativa ordem, a morte do príncipe e uma fuga precipitada de um dos seus filhos. Depois, começam os planos de fuga e de uma possível luta pela liberdade. Mas violência gera violência e não é só entre os prisioneiros que há tensões... A liberdade, se vier, terá um preço elevado. E talvez nem todos sobrevivam para a ver...
Passada num futuro distante, num cenário que abrange galáxias, com toda uma cronologia a servir-lhe de base e uma série de relações ancestrais a justificar a situação presente, é quase inevitável que a primeira impressão que fica desta história é que poderia perfeitamente ser parte de uma história muito maior. Há um contexto vastíssimo, de relações e de evolução do sistema, que justificaria perfeitamente outras tantas histórias complementares a esta. E assim, é também de certa forma inevitável uma curiosidade em conhecer as partes que acabam por ficar para segundo plano.
Dito isto, não faltam acontecimentos na parte que efetivamente nos é dada a conhecer. Tantos que também aqui fica a sensação de que a história poderia ter sido mais aprofundada nalgumas facetas. Ainda assim, há um certo equilíbrio na forma concisa com que alguns desenvolvimentos são explorados. Como se esta história onde os conflitos são constantes quisesse mostrar as sombras para lá da guerra e da intriga: o impacto nos inocentes, no mundo, e os motivos por vezes fúteis que desencadeiam consequências muito mais graves.
Há, aliás, algo de particularmente interessante na forma como, num cenário onde tudo é diferente do que conhecemos, a força motriz das ações - seja ela de raiz emocional ou racional, desinteressada ou egoísta - continua a ter tanto em comum com o nosso presente. E mais: o próprio sistema funciona muitas vezes como uma projeção para o futuro de comportamentos bem conhecidos do passado ou do presente. Sendo de destacar, naturalmente, a forma como os Sapiens lidam com as espécies inteligentes não humanas.
Do ponto de vista visual, importa destacar dois aspetos. Um deles, talvez menos destacado, tem a ver com as ilustrações que acompanham a cronologia e que, nalguns casos, dão uma perspetiva mais detalhada dos cenários onde tudo acontece. O outro tem a ver com a forma como estes cenários surgem na história propriamente dita, inevitavelmente mais simples em comparação, mas perfeitamente ajustados não só no contraste entre locais, mas também entre o antes e o depois da devastação.
Fica, sim, a sensação de que poderia ser parte de uma história muito mais vasta. Mas não lhe faltam qualidades tal como é, desde os momentos de emoção às surpresas ao longo do percurso, sem esquecer, claro, o abundante material para reflexão que se vai insinuando através da história. E é por tudo isto que, mesmo com as perguntas que deixa e a relativa concisão de certas facetas, não deixa de ser uma bela leitura.
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