Quando Prudence Crandall decide receber uma rapariga negra na sua escola, está muito longe de imaginar as ondas de choque que isso terá - e a forma como os verdadeiros rostos da sua comunidade se irão revelar. Pois há quem ache que a distância é sagrada e que as aspirações são um exclusivo dos brancos. Ainda assim, Prudence tem um plano para dar às suas alunas o conhecimento por que anseiam. E está disposta a lutar por isso até ao fim.
Uma das primeiras coisas a salientar sobre este livro é o impacto emocional devastador. Dado o tema e a história, é de esperar uma impressão forte, mas a verdade é que todo o livro é um tratado sobre a forma como o ódio à diferença torna visíveis os limites da crueldade humana - ou a falta deles. Há, pois, momentos verdadeiramente angustiantes nesta história, e uma grande reflexão subjacente a eles. E, sendo embora a história de um período específico, as questões que suscita mantêm a atualidade.
Se a história é notável, a arte não lhe fica atrás, com um toque ligeiramente impressionista a realçar o impacto das situações com mais movimento, uma expressividade que ora confere leveza, ora realça a intensidade e contraste eficaz de luz e sombras que parece enfatizar ainda mais a emoção.
Ainda um último ponto a referir é que, tendo em conta o facto de ser uma história real, certas partes não são propriamente imprevisíveis. Ainda assim, isso não retira qualquer intensidade à história, chegando mesmo a despertar aquele desejo de um final diferente que nasce, por vezes, da proximidade gerada durante a leitura.
Poderosíssimo no tema, visualmente fascinante e carregadinho de emoção e de material para reflexão, trata-se, em suma, de um leitura memorável. E de uma análise certeira ao que a humanidade tem de menos humano.
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