sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Marciano (Andy Weir)

Mark Watney está preso em Marte. Ao sexto dia, uma tempestade de areia levou a que a missão fosse abortada e, julgando-o morto, o resto da equipa partiu. Agora, Mark está sozinho, sem capacidade de comunicação com a terra e precisa de sobreviver com os meios que a missão deixou no planeta. O panorama não parece muito favorável à sobrevivência. Mas Mark não está disposto a desistir e, com os conhecimentos que tem e uma imensa força de vontade, está determinado em encontrar uma forma de se manter vivo até que alguém na Terra dê por ele, ou até à próxima missão a Marte. Até lá, cada novo dia será um dia de esforço para pôr em prática um plano que, mesmo sem considerar tudo o que pode correr mal, quase parece impossível. Mas, quando a sua sobrevivência passar a ser conhecida, é possível que o seu esforço deixe de ser solitário.
De todos os muitos pontos fortes deste livro, o que mais se destaca é um equilíbrio praticamente perfeito entre todos os elementos que o constituem. A história é a de um astronauta preso em Marte e de um plano para regressar à Terra com vida. Assim, é de esperar uma relativa abundância de pormenores desse plano, que se deseja o mais cientificamente correcto possível, mas também a consciência de uma situação que é, afinal de contas, desesperada. Ora o autor consegue conjugar na perfeição estes dois aspectos da narrativa, apresentando uma história em que o plano é vasto e complexo, e tudo o que é necessário saber é devidamente explicado, mas em que há também um lado pessoal, na forma do homem solitário e potencialmente à beira da morte (e com consciência disso).
Tendo em conta este equilíbrio, o próximo ponto que importa referir está na caracterização do próprio Watney. Com uma personalidade bastante forte, um domínio bastante eficaz do sarcasmo e uma muito precisa consciência das suas circunstâncias associada a uma feroz vontade de viver, Mark é um indivíduo carismático, capaz de arrancar sorrisos, mas também de despertar empatia nos momentos mais difíceis. Esta proximidade sai, aliás, reforçada pelo facto de grande parte dos acontecimentos serem narrados pela sua voz, o que torna muitíssimo mais clara a sua perspectiva das circunstâncias.
Esta personalidade forte, associada à situação propriamente dita, contribui em muito para que a leitura nunca deixe de ser viciante. É quase assustadoramente fácil entrar na pele de Mark e perceber a situação em que se encontra. E o que acontece é que esta impressão reforça em muito o impacto das situações mais difíceis. O resultado é que é quase impossível não querer saber mais.
Mas, se Watney é a estrela desta história, há ainda um conjunto de personagens que a tornam mais marcantes. Quer nos restantes elementos da equipa da Ares 3, quer nos que da Terra acompanham a situação de Mark, há toda uma linha de acontecimentos e de tentativas de acção que tornam ainda mais forte o impacto global das circunstâncias. Além disso, há pequenos elementos, discretos, mas muito relevantes, que levantam a sempre pertinente questão do valor de uma vida humana. E respostas que, tendo em conta a forma como tudo termina, não podiam ser mais certeiras.
Intenso e surpreendente, com um protagonista fortíssimo e uma história que marca em muitos aspectos, este é, pois, um livro cheio de surpresas. Equilibrado, magnificamente construído e com um enredo impressionante, fica na memória bem depois de terminada a leitura. Recomendo sem reservas.

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