quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Estranhos Traços Abraçados por Mãos Quentes (Maria Fontes)

Amor e melancolia, desilusão e perseverança, perda e reencontro. É dos sentimentos universais, ainda que vistos de uma perspectiva inevitavelmente pessoal, que tratam os poemas que compõem este livro. Poemas que, dos mais simples aos mais elaborados, dão forma a um conjunto harmonioso, em que há sempre casos que se destacam, mas em que a voz comum faz transparecer, acima de tudo, um sentido de unidade.
Esta impressão de unidade é, aliás, o principal ponto forte deste livro, já que é fácil reconhecer em todos os poemas uma mesma voz. E isto é particularmente interessante porque, apesar dos evidentes pontos em comum, a leitura nunca parece repetitiva. Talvez porque os sentimentos são facilmente reconhecíveis por qualquer leitor, mas também porque a voz da autora lhe confere um cunho pessoal.
Há também uma certa diversidade a complementar esta ligação. Se o registo é, no geral, relativamente simples, há, ainda assim, poemas que surpreendem por serem especialmente complexos, enquanto outros se resumem ao essencial. E, em todos eles, imagens que, ainda que vistas de uma mesma perspectiva, se referem a diferentes facetas da vista. Assim, o conjunto pode representar o mundo da autora, mas é um mundo suficientemente vasto para nunca se tornar monótono.
Em termos de escrita, são os poemas mais elaborados aqueles que se destacam, principalmente por ficar a impressão, relativamente a alguns dos mais simples, que a estrutura - e, principalmente, as opções a nível de rima - impõem algumas limitações. Ainda assim, há uma agradável fluidez em todos os poemas, e isso contribui em muito para manter a envolvência da leitura.
Trata-se, pois, de um conjunto envolvente, que, num registo que é bastante pessoal, abre, ainda assim, portas a sentimentos e vivências que serão também familiares a quem lê. Uma boa leitura, portanto.

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