Temos, por vezes, tendência a imaginar o trabalho de um artista como fruto de uma mente inspirada, movida, talvez, por rasgos de genialidade nascidos de demónios interiores ou de uma musa tão instável como invisível. Mas e se não for bem assim? Afinal, a criatividade não está presente apenas nas grandes obras de arte e, no dia a dia, acaba por ser tão necessária como o próprio trabalho árduo. E, sendo assim, não é verdade que está ao alcance de todos? Mas, para pensar como um artista, há, ainda assim, um conjunto de elementos a ter em conta. E são esses mesmos elementos que dão forma a este livro.
Centrado em grande parte nas artes visuais, mas com conceitos e ideias facilmente aplicáveis a outras áreas criativas, este é um livro que parte do percurso de vários artistas para apresentar um conjunto de linhas para pensar - e criar - como um. E parte dessas mesmas linhas é também um desfazer de mitos, o que acaba por ser, talvez, o ponto mais interessante desta leitura. A musa, os rasgos de inspiração, a vida boémia, a mente atormentada... podem ser factores de peso na acção criativa, mas não são a base. Ou, pelo menos, não para muitos dos artistas mais bem sucedidos. E assim, ao analisar a carreira de vários artistas, desfaz-se esse mito da arte enquanto coisa quase etérea, conferindo-lhe uma visão mais realista.
Claro que tudo isto são visões gerais, pelo que fica a sensação de que haveria também algo a dizer sobre as excepções (as tais que se movem segundo a inspiração e tudo o mais). Ainda assim, e tendo em conta o que parece ser a mensagem do livro, de aplicar a criatividade a tudo na vida e a fazer da vida artística uma realidade objectiva, o facto de o autor se concentrar nos aspectos práticos faz realmente todo o sentido. Aliás, a perspectiva da criação como negócio e a componente financeira podem ser desconfortáveis de considerar, mas não deixam de ser muitíssimo relevantes para a construção de uma vida através da criatividade.
Há, ainda, um outro ponto a destacar nesta leitura. Sendo um livro em que muitos dos exemplos utilizados são retirados das artes visuais, torna-se particularmente relevante ver efectivamente as obras que são dadas como exemplo. E, assim, a presença das muitas fotografias a cor e a preto e branco ao longo do livro, permitem uma percepção mais clara das ideias, ao mesmo tempo que tornam também o livro bastante mais bonito. E há ainda outra vantagem: é que fica também a curiosidade em conhecer mais da obra dos artistas citados ao longo do texto.
A soma de tudo isto é uma boa leitura, que abre portas a uma perspectiva diferente sobre as artes e a forma de usar a criatividade e, ao mesmo tempo, permite conhecer melhor o que já se fez - e como se fez - no mundo das artes. Muito interessante, portanto, um livro que vale a pena ler.
Título: Somos Todos Artistas
Autor: Will Gompertz
Origem: Recebido para crítica
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