sábado, 12 de outubro de 2019

Um dia tudo isto será meu (João Habitualmente)

Das ruas das cidades ao silêncio dos campos. Da sedução individual à uniformização de um pensamento colectivo. Do mais pessoal ao mais vasto dos pontos de vista. De tudo isto são feitos os poemas que compõem esta antologia e que, num registo que oscila da pura crueza a uma nostalgia quase evocativa, formam um todo surpreendentemente diverso e, simultaneamente, inesperadamente uno.
Um primeiro aspecto que importa referir acerca deste livro é o facto de se tratar de uma antologia construída a partir de uma obra mais vasta, seleccionada, aliás, por outro que não o autor. O primeiro ponto a destacar será, por isso, a organização, que, em vez de por datas, parece escolher temas específicos para ponto de partida de cada parte do livro. E a verdade é que, embora não o sendo, a impressão que fica é a de um conjunto que poderia perfeitamente corresponder a um livro construído de raiz, em que cada poema encaixa como uma luva na secção a que pertence e cada parte forma, por sua vez, um todo coeso que se lê quase como uma sucessão de imagens.
Há diversidade, porém, no seio desta unidade. Diversidade de temas, diversidade de ritmos e estruturas, diversidade até mesmo de tons, com alguns poemas breves a parecerem evocar todo um mundo e outros que, apesar de mais extensos, parecem ficar apenas pela estranheza. O resultado é uma maior sensação de proximidade relativamente a alguns poemas, enquanto outros não deixam uma marca tão impressionante, embora nunca se esbata a sensação de que pertencem ali.
E, claro, há o inevitável efeito secundário de quando se lê apenas parte de uma obra mais vasta: a curiosidade em conhecer o resto da obra deste autor. É sempre positivo quando um livro nos leva a querer ler outros livros - e esta antologia não é excepção.
Simultaneamente vasto e coeso no seu equilíbrio de proximidade e distância, trata-se, pois, de uma envolvente leitura para descobrir de forma sequencial, mas também de um livro a que regressar em busca daqueles poemas que mais marcaram. Para ler uma vez... e outra... e outra mais... ao ritmo da empatia e da recordação.

Autor: João Habitualmente
Origem: Recebido para crítica

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