sexta-feira, 1 de novembro de 2019

As Mulheres do Coro de Chilbury (Jennifer Ryan)

Chilbury, uma pequena povoação inglesa habitada por uma comunidade muito unida, vê-se abalada nas suas bases pela chegada da guerra. Grande parte dos homens viram-se obrigados a partir para a guerra, o que, além do incessante medo da perda, trouxe consigo outro tipo de mudanças e a necessidade de as mulheres assumirem um papel mais relevante. Por isso, quando o pároco decide fechar o coro devido à falta de homens, logo uma alternativa se manifesta, com a vontade da recém-chegada Prim, professora de música, de criar um coro só de mulheres. Nasce assim o coro feminino de Chilbury, foco de união em tempos desesperados, não só na guerra contra os nazis, mas no entrelaçar de mistérios e pequenas intrigas que pairam, qual sombra, sobre a tranquilidade de Chilbury.
Escrito essencialmente sob a forma de cartas e diários dos principais protagonistas da história, este é um livro que, desde muito cedo, abre portas para os sentimentos mais íntimos das diferentes personagens. Não surpreende, por isso, que um dos primeiros aspectos a chamar a atenção, e também uma das grandes forças deste livro, seja a intensidade emocional e a forte empatia que logo desde as primeiras páginas se gera entre leitor e personagens. Além disso, ao acompanhar as diferentes ramificações da história na primeira pessoa, o impacto dos acontecimentos ganha outra força e a evolução das personagens - e, oh, se há evolução nestas personagens - torna-se mais tangível e impressionante.
A escrita ganha, por isso, especial destaque, com a forma como a autora consegue conferir diferentes vozes - todas elas autênticas e harmoniosas - aos seus diferentes narradores. É fácil reconhecer a voz de Venetia, e ver como esta vai mudando com as consequências da sua própria história. O mesmo acontece, e de forma particularmente notável, com a Sra. Tilling, à medida que vai descobrindo a sua voz e o seu lugar no mundo. E isto aplica-se, em maior ou menos grau, a todos os intervenientes, dos que despertam imediata empatia aos que começam por sobressair pela falta de escrúpulos, para depois revelar uma surpreendente presença (ou, nalguns casos, ausência) de qualidades redentoras.
É uma história de vida em tempos de guerra, o que significa a presença constante da sombra da perda, bem como a sua manifestação efectiva. Mas é também a história de uma comunidade e a das diferentes pessoas que a constituem. Neste meio tão coeso, há espaço para todo o tipo de enredos e revelações, desde uma troca de bebés à descoberta do amor nos braços de um espião, passando por uma paixão de infância que se transforma numa realidade mais dura e pela persistência do amor por entre todo o tipo de sofrimentos. Não faltam momentos marcantes ao longo deste livro. E emoção, principalmente, o tipo de emoção transbordante capaz de arrancar sorrisos e lágrimas como se estivéssemos lá mesmo ao lado destas personagens... a ver a vida acontecer.
Não faltam, pois, qualidades nesta belíssima e inspiradora história. Um livro capaz de nos transportar para a vida e para o coração das suas personagens - e de se abrigar no nosso, bem depois de lidas as suas últimas frases. Maravilhoso, em suma. Maravilhoso.

Autora: Jennifer Ryan
Origem: Recebido para crítica

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