Tinham uma vida cheia de música, até que o silêncio se abateu sobre o mundo. Agora, a pequena Shira tem de aprender a conter os mais ínfimos sons para que os soldados não a descubram no celeiro onde está escondida com a mãe. Para se consolar, cria mentalmente melodias para o seu pássaro amarelo e espera que tudo passe. Mas o perigo está perto e aquele esconderijo não durará para sempre.
Um dos aspetos mais surpreendentes deste livro vem da forma como, passada num contexto sobejamente conhecido, a história adquire, ainda assim, um registo singular e pessoal. Centrada na sobrevivência das protagonistas, deixa para segundo plano o contexto global para se focar nas experiências pessoais e na forma como estas se repercutem em cada passo.
O resultado desta perspetiva é uma história mais simples, mas também mais emotiva, mais ambígua, no sentido em que há aspetos que são apenas sugeridos, mas mais próxima. E sempre com um lado inocente que, passado para primeiro plano, contrasta vivamente com a crueldade em que se enquadra.
Ainda um último ponto marcante é a presença da música em toda a história, das memórias de um passado menor ao conforto no meio do medo, passando pela capacidade de unir, inspirar a comover, a música acaba por ser também uma personagem, e uma que confere a esta história um enternecedor rasgo de poesia.
Simples quando baste, mas carregado de sentimento e de intensidade, trata-se, em suma, de uma leitura cativante, sobre tempos negros e perda, mas também amor e esperança. Uma bonita história.
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