quarta-feira, 28 de julho de 2021

Mademoiselle Chanel e o Perfume do Amor (Michelle Marly)

1919. O nome de Coco Chanel é conhecido para todos. Conta entre as suas clientes inúmeras figuras importantes, muitas das quais a veem como indigna das suas atenções, ainda que não se importem nada de exibir as suas peças. Mas Coco - ou Gabrielle - nunca se importou com o que os outros pensavam. Bastam-lhe o sucesso, os amigos e o amor. Só que nada é eterno na vida, e muito menos o amor. E a perda do seu grande amor lança Gabrielle numa busca incessante por preservar a sua memória, os projetos que fizeram juntos. Um hino, em suma, ao amor partilhado - em forma de perfume.
Provavelmente o aspeto mais marcante neste livro é a forma como a autora parte de um conjunto de personagens reais para dar vida a uma história em que o verdadeiro protagonista é, na verdade, o perfume. Sim, claro, que é Gabrielle Chanel que domina, e uma Gabrielle que é muito mais fascinante pela forma intensa e emotiva que a autora tem de explorar o seu percurso e as suas relações. Mas a verdadeira força motriz da história é a criação do perfume, desde a sua origem enquanto projeto partilhado de amor à sua efetiva criação e desenvolvimento.
Não quer isto dizer, naturalmente, que as personagens sejam secundárias, ainda que tudo gire em torno deste grande projeto. É que, ao longo do caminho de Gabrielle, há muitas relações e contactos, desde a amizade algo possessiva com Misia à relação atribulada com Stravinsky, sem esquecer o amor de conto de fadas com Dimitri. Há todo um percurso a acompanhar e, nele, muitos momentos marcantes. E há também uma fluidez de narrativa que faz com que todo o enredo progrida com naturalidade, com uma voz leve quanto baste, mas cheia de emoção.
Há, finalmente, uma certa ambiguidade, que é necessária, não só por ser uma história de figuras reais, mas também porque o próprio percurso o exige. Não há amores perfeitos nesta história, tal como também não há personagens perfeitas. Coco Chanel pode desafiar as convenções da sociedade, mas essas continuam bem presentes. E, assim, há desenvolvimentos que nem sempre serão os mais desejados, mas são os que fazem mais sentido - ou os que mais se aproximam da realidade. E que podem tornar a história mais agridoce, mas tornam-na também mais viva.
Envolvente na escrita, fascinante nas personagens e muito equilibrado na forma como dá vida a um projeto de sonho sem esquecer a realidade, trata-se, pois, de uma leitura cativante e que mostra um lado diferente da sempre célebre Coco Chanel. Vale bem a pena conhecer esta história, portanto.

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