segunda-feira, 5 de julho de 2021

Good Samaritans (Will Carver)

Seth Beauman não consegue dormir. E a melhor forma que encontrou de lidar com a insónia foi começar a ligar para pessoas ao acaso durante a noite, na esperança de uma delas querer falar. A maioria não está interessada. Alguns chegam mesmo a ser rudes. Mas, às vezes, gera-se uma ligação. Seth encontra o contacto de que precisa. É um bom ouvinte. Mas as coisas tendem a descontrolar-se. E, quando uma linha cruzada o põe em contacto com a vulnerável e possivelmente suicida Hadley Serf, o seu estranho ciclo de contacto e disfunção para estar prestes a recomeçar. Seth é casado. E o seu casamento está longe de ser perfeito. E a única ligação que parecem partilhar é ver as notícias sobre uma série de estranhos homicídios a ocorrer ali perto…
Parte do que torna este livro tão intrigante é o facto de ser totalmente imprevisível. Assim, é difícil dizer seja o que for sobre a história sem estragar algumas surpresas. Fiquemos, pois, por isto: cada perspetiva, cada desenvolvimento e cada peça neste mosaico estranhamente viciante encaixa perfeitamente no cenário global. E o resultado é absolutamente viciante e fascinante.
Existem algumas caraterísticas que podem, ainda assim, ser referidas sem revelar demasiado da história. A começar, claro, pela construção das personagens. Seth, com a sua insónia e a sua necessidade de ligação, gera um forte sentimento de empatia. (Já todos passámos por isso, certo? Noites sem dormir devido às complexidades da vida.) Mas esta empatia transforma-se em algo diferente com o desenrolar da história. O mesmo se aplica a Ant, com os seus truamas passados a alimentar o que parecem ser boas intenções… que depois se transformam noutra coisa. E, no meio de tudo isto, com uma presença surpreendentemente discreta – mas, oh, que presença – está o detetive-sargento Pace e a sua tão deliciosamente ambígua escuridão.
Depois, há a escrita. Os capítulos relativamente breves, alternando entre diferentes pontos de vista e dando uma voz individual a cada personagem, ao ponto de se tornarem absurdamente familiares. As múltiplas frases memoráveis que dão uma voz única não só às personagens, mas também aos seus motivos e circunstâncias. E o mistério que parece irradiar das palavras, tornando cada nova surpresa ainda mais intensa.
Verdadeiramente notável em todas as suas facetas, este livro não é apenas uma história cheia de surpresas: é todo ele uma enorme surpresa. Personagens memoráveis, um turbilhão de revelações e uma escrita que nos conduz diretamente aos mais negros, estranhos e fascinantes aspetos destas sinuosas mentes tornam-no impossível de largar do início ao fim. E fica no pensamento durante muito tempo.
 

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