terça-feira, 21 de setembro de 2021

Stumptown - Volume Quatro (Greg Rucka, Justin Greenwood e Ryan Hill)

Pode não ser o mais dramático ou o mais violento dos caos de sempre, mas Dex Parios tem nas mãos o que é, sem dúvida, o caso mais caricato que alguma vez enfrentou. Tudo gira em torno de umas quantas amostras de café. Um bom café, sim, mas, aos olhos de Dex, apenas isso. Só que para os múltiplos envolvidos não é essa a questão: o que está em jogo é um café muito caro e muito específico e a rivalidade entre dos multimilionários. Além, claro, da chamada máfia barista, que tem intenções nefastas para o futuro desse café. Dex só tem de o entregar em segurança. Mas, para o fazer, vai ter de passar por uns quantos confrontos.
É na peculiaridade do caso, e na sua relativa leveza, que está a grande força deste volume, pois afasta-se um pouco das situações mais sombrias para explorar uma história menos violenta (mas com ação quanto baste, ainda assim) e com uma abundância de elementos caricatos que a tornam surpreendentemente divertida. Ora este contraste torna-se ainda mais vincado se olharmos para o aspeto visual, com os seus tons sombrios, expressões carrancudas, posições quase de duelo ao amanhecer. É como se o objetivo fosse dar um tom sério - mas não demasiado sério - a uma história que se assume como tudo menos isso.
Outro aspeto interessante é que este caso mais leve abre espaço a mais alguns desenvolvimentos sobre a história pessoal de Dex. As interações com Ansel são sempre rasgos de ternura, dada a inocência da personagem, mas a entrada em cena da irmã vem trazer novas tensões e conflitos pessoais. Fica, aliás, uma certa curiosidade insatisfeita relativamente a esta relação familiar, pois, sendo uma parte secundária face ao caso principal, deixa algumas questões em aberto. Ainda assim, ver mais da vida pessoal de Dex Parios é vê-la mais humanizada. E isso nunca pode deixar de ser interessante.
Ainda uma última nota para referir o último capítulo, que é um caso separado da história maior deste volume. Com relativamente pouco diálogo, vive muito da arte e do movimento, principalmente tendo em conta que toda a história gira em torno de uma noite de vigilância. Mas sobressai essencialmente por dois aspetos: pela forma como, sendo totalmente independente, não parece deslocado do caso anterior, e pelo surpreendente rasgo de empatia final num caso que parece ter pouco de pessoal.
Leve e peculiar, mas com um equilíbrio eficaz entre os aspetos sérios e os caricatos, trata-se, pois, de uma leitura envolvente, intensa e surpreendentemente divertida. Dex Parios em toda a sua glória, nas mais inesperadas das circunstâncias. E sempre com a mistura certa entre frieza e vulnerabilidade que tão bem a carateriza.

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