A ideia de confiança pode parecer algo muito simples, mas é tudo menos isso. E, embora possa parecer que o mais difícil é confiar nos outros, pois não se sabe realmente que resultados se poderão obter, a autoconfiança não é necessariamente mais fácil. Vivemos num mundo de interações, de ruído, de multidões que influenciam e arrastam. E manter a serenidade e a confiança em nós próprios num mundo em permanente turbilhão é tudo menos simples. É sobre essa confiança - nas escolhas, na ação, na nossa própria natureza - que este pequeno livro nos fala.
Sempre que se discute o que faz de um livro um clássico, um dos termos inevitavelmente evocados é a intemporalidade: a forma como uma história ou visão do passado se repercute com precisão nos nossos tempos. Bem, este livro cumpre plenamente esse requisito. As referências podem ser específicas do seu tempo, mas a mensagem transcende-o e as suas ideias são tão pertinentes para os nossos dias como foram no passado. E a sua capacidade de nos fazer refletir sobre o que somos - e principalmente sobre como nos vemos - não podiam ser mais atuais.
Trata-se de um livro muito breve, o que significa que, apesar do seu registo algo contemplativo, se lê praticamente de uma assentada. Mas isso não se deve apenas à brevidade. Há na forma como este livro está escrito como que uma voz que nos fala por dentro: facilmente o podemos ouvir como um discurso à medida que as páginas vão passando. E, assim, o efeito que fica, logo ao primeiro contacto, é como que uma vontade de ouvir a lição até ao fim para depois a assimilar.
Trata-se ainda de um texto repleto de citações memoráveis, de ideias expressas de forma tão clara que quase poderiam surgir como mantras. E, tendo isto em vista, importa salientar um aspeto particular desta edição: além de visualmente bonito, põe em evidência muitas destas citações mais pertinentes, o que facilita os inevitáveis regressos às ideias memoráveis do texto. Sendo certo que todo ele é propício a um regresso, pois, além de muito marcante na mensagem, é também uma leitura muito agradável.
Finalmente, destaca-se um último ponto curioso: sendo um texto sobre autoconfiança e sobre não nos deixarmos influenciar demasiado pelas opiniões e determinações dos outros, é interessante notar a presença de possíveis pontos de discordância. Ao longo deste texto, são afirmadas convicções fortes, e é inevitável não se estar absolutamente de acordo com tudo. Mas, tendo em conta o tema, é também inevitável que estes pontos de divergência surjam como ainda uma nova base para reflexão.
É uma leitura muito breve, mas cheia de aspetos memoráveis, desde a escrita à mensagem, sem esquecer a forma natural e fascinante como nos conduz à reflexão. E é, por isso, de certa forma, também um início de caminho... O resto cabe-nos a nós percorrer.
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