A morte é uma das grandes inevitabilidades da vida e, por mais que julguemos o contrário, estamos muito longe de estar preparados para lidar com ela. Com a nossa e sobretudo com a dos que nos são mais queridos. Paz Padilla sofreu duas grandes perdas num curto espaço de tempo, mas esse percurso ensinou-a a ver a morte - e a vida, sobretudo - de uma forma diferente. Esta é a história da sua viagem, a narrativa das perceções que foi construindo e a sua própria visão de como lidar com a iminência da morte e com o peso do luto: com força, humor e muito amor.
Quando pensamos na morte, o que vem inevitavelmente ao pensamento são imagens sombrias, sentimentos tenebrosos, a mais que conhecida imagem da figura encapuzada a segurar uma foice. São também emoções difíceis, sensações desconfortáveis e muitas, muitas perguntas. Quem nunca se questionou, afinal, sobre a sua própria mortalidade? Por isso, uma das primeiras coisas a surpreender neste livro é necessariamente a sua leveza. Com um sentido de humor muito próprio, que contrasta com a gravidade do tema, e também com uma visão muito abrangente, com uma certa medida de espiritualidade, mas sem se cingir a crenças específicas, trata-se de uma leitura surpreendentemente leve e descontraída, com momentos verdadeiramente divertidos e uma visão bastante positiva da continuidade da vida face à morte.
Tendo como objetivo assumido a possibilidade de ajudar pessoas a lidar com a mesma experiência, este livro pode ser classificado de várias formas. Tem o seu quê de livro de autoajuda, embora assumindo uma forma bastante diferente do comum, mas é também a história de um percurso pessoal, uma espécie de livro de memórias, pontuado ainda por algumas análises a ideia da morte dos pontos de vista filosófico, religioso e espiritual. Reúne todo um conjunto de elementos diferentes, e fá-lo sem perder a leveza e a proximidade do que é, acima de tudo, uma partilha de experiências pessoais. E é essa proximidade, associada ao já referido sentido de humor, que torna a leitura tão envolvente.
É fundamentalmente uma história pessoal, ainda que carregadinha de aspetos com que muitos leitores se poderão identificar. E, se juntarmos a isto um contexto muito próprio e um sentido de humor também peculiar, haverá momentos de maior proximidade e outros também de uma certa estranheza. Mas domina a proximidade e o que, desta história individual, pode ser transposto para outras. E, assim, torna-se mais do que um testemunho singular; torna-se um ponto de partida para as reflexões de cada um.
Surpreendentemente leve para a história que conta e para as questões que aborda, trata-se, em suma, de um percurso pessoal e intransmissível que abre portas a uma visão mais serena e mais natural da morte e do luto. E basta isso - essa capacidade de expandir horizontes mesmo numa questão tão delicada - para fazer com que esta leitura valha a pena.
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