sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O Segredo de Portograal (Flávio Capuleto)

Tudo começa com a morte de um homem às mãos de um assassino profissional no interior de uma igreja. Mas esse é apenas um dos pontos da longa e intrincada teia que, construída a partir do segredo dos Templários, conduz a teorias sobre uma dinastia sagrada e aspirações ao regresso da monarquia. E é a partir da investigação dessa morte que os acontecimentos começam a intensificar-se. Chamando a opinar sobre o caso, um historiador e autor de um livro controverso, começa a seguir o rasto de um segredo bem guardado. E, à medida que novas figuras começam a entrar em cena, a trama vai-se adensando e expandindo, ao ponto de abranger planos para alterar o futuro do país e da ciência.
É, de certo modo, inevitável dividir a observação deste livro em dois aspetos: a ideia e a concretização. É entre estes dois parâmetros que mais se notam as diferenças e é também a forma mais clara de separar as forças das fraquezas. Até porque o contraste entre ambas é tão presente ao longo de toda a leitura que é impossível não chegar ao fim com uma boa dose de sentimentos ambíguos.
A parte da ideia é onde se encontram as maiores forças. É certo que não faltam histórias a gravitar em torno dos Templários e dos seus segredos, seja no sentido místico, seja no material. Ainda assim, não deixa de ser interessante a transposição destas teorias para território nacional. Além disso, entre os mistérios das mortes, a personagem com um grande segredo para descobrir, as tensões políticas e religiosas e até os elaborados desenvolvimentos científicos, não faltam pontos de interesse no desenvolvimento desta história.
As fraquezas surgem na execução. Por um lado, a conjugação de tantos elementos e de tantas personagens, faz com que várias pontas vão sendo deixadas para trás ao longo do caminho. Por outro , há desenvolvimentos que acabam por ser demasiado rápidos, pois, mesmo para as quatrocentas páginas deste livro, há toda uma imensidão de coisas a acontecer. Finalmente, e sendo certo que todas as histórias refletem, de uma forma ou de outra, um conjunto de valores, é inevitável a sensação de que a mensagem se sobrepõe à história. E há um certo exagero na simplificação: os monárquicos são o futuro perfeito, todos os restantes são corruptos, e uma invenção capaz de matar silenciosamente não tem tantos dilemas morais quantos devia ter. Finalmente, fica ainda um ligeiro desconforto ante um certo saudosismo dos supostos "melhores valores" de antigamente.
Ao longo da leitura, há momentos em que predominam as forças, pois as ideias despertam a curiosidade de saber mais, e outros em que predominam as fraquezas, pois a posição das personagens facilmente desperta irritações. E, assim, o que fica são sobretudo sentimentos ambíguos face a uma história cheia de possibilidades, e onde não faltam, apesar de tudo, momentos cativantes, mas que se perde pela mistura de demasiadas coisas e por uma visão demasiado linear.
Somadas todas as partes, o que fica é a sensação de uma história que, ao fazer convergir demasiadas coisas, acaba por deixar demasiado por desenvolver. Não deixando, apesar de tudo, de ter os seus momentos de envolvência, na leveza dos capítulos curtos e de algumas ideias intrigantes e interessantes de explorar.

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