Quando, em pleno século XIX, uma empresa de viagens no tempo anuncia a possibilidade de viajar até ao ano 2000, com o fim de contemplar a grande batalha entre os homens e as máquinas, a curiosidade agita a sociedade. E é dessa agitação que nascem as três histórias que se fundem neste livro. Andrew, o homem que deseja viajar ao passado para salvar a amada de Jack, o Estripador. Claire, que sente que o seu lugar é no futuro, longe das estranhas conveniências protocolares da sua sociedade. E o escritor H. G. Wells, que precisa de viajar entre as épocas para escapar a um homem que pretende roubar o manuscrito do seu novo romance e pôr um término à sua vida. O tempo, contudo, é um estranho tecido de acontecimentos. Será, afinal, possível percorrê-lo livremente?
Muito se poderia dizer sobre este livro, mas, dizendo demasiado, correria o risco de estragar o prazer que é a leitura desta excelente obra. Centrar-me-ei, pois, no essencial. Em termos de enredo, o autor transporta-nos por completo para a época que nos pretende descrever, com os caprichos e curiosidades daquele tempo. Com uma escrita que, não sendo de leitura compulsiva, se entranha na mente do leitor, somos facilmente transportados para o interior da sua história. E se, inicialmente, a divisão deste livro em três partes, correspondentes às três histórias principais, parece não ter uma ligação suficientemente sólida, à medida que avançamos no enredo compreendemos que tudo tem a sua razão para estar ali.
Um grande ponto positivo deste livro é a forma como o autor manipula o real e o fraudulento, deixando constantemente a dúvida do que é possível e do que não é. Quando estamos convencidos de uma farsa, encontramos uma súbita realidade e acontecimentos que parecem ser inegavelmente factuais acabam por revelar explicações inimagináveis. Este desenvolver do enredo mantém constantemente a pergunta na mente do leitor. Quanto será real, no contexto da história, e quanto será uma ficção que nos será revelada como falsa antes do fim?
Além disso, a presença de uma série de personagens reais, desde o sinistro Jack, o Estripador, a escritores que marcaram a sua época, como Henry James, Bram Stoker e o próprio H. G. Wells conferem um novo fascínio à leitura. Afinal, são nomes intemporais a tomar parte de uma história sobre viagens no tempo e o fascínio que as suas figuras exercem não deixa de ser um aspecto marcante.
Ainda a referir a mistura impressionante de ciência e magia, lógica e imaginário, raciocínio e emoção. Momentos muito comoventes intercalam com explicações cuidadosamente racionais, e o impossível convive, lado a lado, com a ciência, num resultado que dificilmente poderia ser mais fascinante. E, por último, se os momentos em que se torna necessária uma explicação mais completa, parecem, por momento, quebrar o ritmo da história, devido ao sistema a que o autor parece recorrer, integrando pequenas histórias dentro da acção normal (na sua própria viagem entre passado, presente e futuro), quando voltamos a última página, compreendemos que mesmo essas explicações um pouco mais monótonas são necessárias para entender o estranho mundo por onde passámos.
Sem dúvida que recomendo este livro. A forma como mistura fantástico, histórico e real resulta num livro que, não sendo a mais viciante das leituras, se insinua na mente do leitor, levando-o a acompanhar a história e a perguntar-se, entre tantas reviravoltas, quanto será real no fim da história. E, mesmo depois do virar da última página, deixa aquela sensação de curiosidade, de vontade de conhecer. Como seria, afinal, o mundo se pudéssemos viajar pelo tecido do tempo?
Muchas gracias, muito obrigado, por el comentário sobre O mapa do tempo, me alegra mucho que lo hayas disfrutado. Un beso.
ResponderEliminarFélix J. Palma
Muito bem! Até tiveste direito ao comentário do próprio autor! É uma honra e estou invejoso =D Eu estou a terminar a leitura do livro para também deixar uma opinião no BLID. Mas estou a gostar imenso e já está no meu top de livros favoritos =D Beijo
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