Partindo da história do seu avô, homem do mar e dono do barco Dois Amigos, o narrador/protagonista encontra a ideia base para um romance. E, ao longo de uma viagem entre Bilbau e Nova Iorque, as memórias, as perguntas e as histórias de múltiplos passados formam um retrato preciso, apesar dos seus múltiplos fragmentos, de todo um percurso de vidas e recordações.
É com a inconstância da memória, com a força das ligações inesperadas, que o autor constrói a forma deste romance. Não há uma linha temporal precisa, mas uma oscilação entre fragmentos do tempo, através de diferentes episódios, múltiplas vidas cruzadas em situações mais ou menos complexas. E se, em cada recordação aflorada durante a viagem tranquila que parece ser o centro comum de todas as memórias há uma história marcante em si mesma, é quando todos os elos se unem que a visão global da(s) história(s) se manifesta na sua força total. Porque não é só de uma história familiar que se trata: há episódios de guerra, reflexões sobre a arte, encontros, separações, vida... e morte.
Interessante também o percurso entre os diferentes lugares, numa história que é, afinal, de viagens dentro de uma viagem. Viagens entre diversos locais, mas principalmente viagens entre múltiplas recordações. Porque é na força das memórias e das diferentes personalidades por elas apresentadas que reside o maior encanto deste livro.
Falta, por fim, mencionar a ideia do romance dentro do romance, já que, à medida que a viagem (e as histórias) deste livro se desenvolve, é, por várias vezes, referido o processo de construção de ideias para o romance que é, afinal, o livro que conta esta história. Há, portanto, algo de curioso nas memórias contadas neste livro, sendo algumas também as memórias da criação deste livro.
Um livro feito de pequenos momentos e de memórias poderosas, com uma escrita onde uma beleza poética se conjuga com a simplicidade necessária para dar forma a uma história de múltiplos significados e de agradável leitura, num livro onde a memória parece ser a força soberana.
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