Ao entrar na Chocolaterie em busca de conforto depois de uma relação destroçada, Clara está longe de imaginar que a sua vida está prestes a mudar. Mas tudo acontece muito depressa e o que parece uma simples empatia para com uma funcionária simpática cedo evolui para a relação que mudará as vidas de ambas. É que as pessoas que rodeiam Clara e Maria não estão preparadas para as ver numa relação com alguém do mesmo sexo... Uma relação que as fará enfrentar dificuldades, dúvidas e, principalmente, preconceitos.
O que desde logo se destaca neste livro é precisamente a relevância do tema. Ao abordar as dificuldades e os preconceitos relativamente às relações entre pessoas do mesmo sexo, a autora consegue levantar algumas questões interessante e, ao contar a história na primeira pessoa, consegue, com a expressão das dúvidas das protagonistas, criar alguma empatia. A relação entre Clara e Maria é o ponto central da história e a mensagem de tolerância subjacente a todo o texto é sempre o grande foco de todo o enredo. Tanto que, por vezes, o ritmo perde-se na expressão repetida e veemente das convicções associadas às protagonistas.
Há também alguns momentos bastante interessantes a introduzir tensão no que, durante boa parte do enredo, é uma relação relativamente sólida. Os atritos familiares, as manifestações públicas de afecto e as consequentes reacções de reprovação por parte de outras personagens e, inclusive, as escolhas difíceis feitas pelas personagens estão na base de alguns momentos particularmente interessantes. Ainda assim, o melhor destes momentos acaba por pouco dizer respeito às protagonistas, pelo menos directamente, já que a história das cartas encontradas no moinho acaba por trazer um agradável retrato de um tempo diferente, tendo sempre em vista o tema central, mas numa perspectiva bastante diferente da da própria experiência das protagonistas.
O que me leva aos problemas. O primeiro é, desde logo, o ritmo algo errático, em que algumas situações parecem ocorrer demasiado depressa, surgindo inclusive aspectos relevantes que são deixados por aprofundar, enquanto que outros ganham um protagonismo que os torna um pouco repetitivos (principalmente, na relação física entre as protagonistas). O outro é a evidente falta de uma revisão do texto. Erros ortográficos e alterações confusas a nível de tempo verbal são falhas recorrentes ao longo de todo o texto e, ainda que seja fácil compreender o que devia estar lá, o ritmo de leitura é perturbado.
A impressão que fica desta leitura é, portanto, a de uma história interessante, com alguns momentos bem conseguidos e um tema pertinente como base, mas que perde bastante pelas oscilações de ritmo e pelas fragilidades de escrita. Uma boa ideia, com bons momentos ao longo da história, mas que poderia ter sido bastante mais.
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