domingo, 30 de dezembro de 2012

As Histórias de Terror do Navio Negro (Chris Priestley)

A noite é de tempestade. Na Velha Estalagem, Cathy e Ethan, doentes, esperam pelo pai que foi à procura do médico. Dormem um pouco e acordam a sentir-se melhor, ainda que um pouco entorpecidos. E é então que um estranho chega à estalagem, alegando ser um marinheiro que procura abrigo durante a tempestade. Ethan desconfia, mas não podem propriamente deixar o homem sozinho ao vento e à chuva. Abrem-lhe a porta. E as duas crianças fascinadas por histórias de marinheiros - quanto mais sinistras, melhor - descobrem no seu visitante um homem com muitas histórias para contar. 
Há algo de estranhamente mágico na forma como este livro consegue ser, ao mesmo tempo, arrepiante e enternecedor. Ainda que seja um conjunto de histórias com protagonistas diferentes, cada uma delas faz parte de uma unidade maior, enquanto parte do que o estranho Jack Thackeray tem para oferecer. E, nessa longa noite de partilha de histórias, não está só o mistério do marinheiro que as conta, mas também as duas crianças que esperam que o pai regresse da noite tempestuosa. São, portanto, duas figuras particularmente vulneráveis, e a sua inocência comove, mesmo tendo em conta o seu fascínio por histórias macabras. Comove desde o início, pela situação trágica que é apresentada para as suas infâncias, mas principalmente pela revelação final, que vem dar a todo o conjunto das histórias contadas neste livro um toque de ternura e melancolia que contrasta com o lado sombrio e, por vezes, algo sinistro das histórias de Thackeray.
A escrita é bastante acessível, sem grandes elaborações, mas bastante eficaz na evocação do tal ambiente sombrio que faz parte de todas as histórias deste livro. Essa simplicidade parece adequar-se na perfeição à voz dos narradores, tanto a Thackeray, que conta a maioria das histórias, como a Ethan, que conta as restantes. Além disso, esta forma directa de contar as coisas confere aos acontecimentos uma maior intensidade, tornando mais forte o impacto das revelações surpreendentes que, inevitavelmente, esperam no fim de cada história.
Para tornar as histórias mais cativantes contribuem também as ilustrações. Não sendo muito complexas nem muito abundantes, adequam-se na perfeição ao conteúdo, tornando mais fácil imaginar a história a decorrer e contribuindo também para reforçar o mistério em torno de cada história.
Viciante e surpreendente, este é, pois, um livro que, nas suas muitas histórias e no que as une como uma só, conjuga mistério e terror, mas também algo de tristeza e um toque de ternura, numa leitura com tanto de sombrio como de mágico. Um livro fascinante, em suma.

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