terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Lenda (Inês Cardoso)

Quando o pai desapareceu, Alice viu-se forçada a conter a sua própria tristeza para minimizar o sofrimento da mãe. Isso fez dela uma rapariga distante, céptica, com dificuldades em confiar. Mas o isolamento está prestes a deixar de ser alternativa. Depois de ver, novamente, a mesma coruja que encontrou no dia do desaparecimento do pai - uma coruja que mais ninguém consegue ver - a atenção de Alice é atraída por uma pedra estranhamente brilhante. E, ao tocar-lhe, Alice é transportada para um mundo diferente, onde os viajantes de outro mundo têm dons particulares e ela não é apenas uma rapariga. É a heroína da Lenda que promete ser ela a libertar aquele mundo da tirania da rainha.
Escrito por uma autora jovem e para um público jovem, este é um livro relativamente simples. A história não tem nada de muito complexo e o mesmo acontece a nível de escrita, bastante simples, mas cativante e agradável. É, ainda assim, uma história interessante, com um enredo envolvente e alguns momentos bastante bons.
Um dos detalhes mais interessantes é o inevitável paralelismo entre esta história e a de Alice no País das Maravilhas. Os pontos em comum não são muitos, mas esses pequenos pormenores, desde a viagem de Alice a um mundo diferente à descoberta de um aliado (ou algo mais) chamado Hatter acabam por evocar essa associação, o que torna a história um pouco mais intrigante. Além disso, se o enredo não é particularmente surpreendente, tem, ainda assim, vários momentos bons e a forma como a história evolui, quer no inevitável conflito entre Alice e a rainha (e respectivos aliados), quer na relação com o misterioso Hatter nunca deixa de ser cativante e agradável.
Há alguns aspectos que poderiam, talvez, ter sido mais explorados, principalmente nas diferenças e semelhanças entre os dois mundos. Por um lado, há dons mágicos, uma rainha e um castelo a separar o novo mundo da realidade "normal" de Alice, mas, por outro, parecem, por vezes, haver demasiadas coisas em comum. A tecnologia e os objectos do quotidiano são bastante semelhantes, mas o porquê dessas semelhanças nunca é explicado, o que acaba por deixar uma certa sensação de estranheza. Isto ocorre em momentos pontuais, ainda assim, pelo que não prejudica demasiado o ritmo de leitura.
Trata-se, pois, de uma história que não sendo particularmente inovadora, consegue cativar pelo ritmo envolvente e pela forma como as personagens, na sua relativa inocência, acabam por despertar empatia, bem como pela escrita cativante, ainda que simples, e pelos momentos mais emotivos. Uma história simples, portanto, mas uma leitura agradável. Gostei.

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