Passaram três anos desde o segundo casamento do rei. Apesar do desdém da nobreza, Thomas Cromwell é um homem poderoso. Mas, mais uma vez, as vontades do rei estão a mudar. A sua segunda rainha parece também incapaz de lhe dar o desejado herdeiro. A primeira mulher recusa-se a aceitar a sua vontade. E os olhos de Henry são atraídos para a serena e mansa Jane Seymour. Mais uma vez, tomam-se partidos, sussurram-se rumores, intriga-se, conspira-se. E, no centro de tudo, Cromwell observa e age, movido pelas suas próprias ideias e pelo caminho que julga mais seguro... Sabendo que ninguém está seguro, se a vontade do rei for contrariada.
Retomando a história iniciada em Wolf Hall, O Livro Negro continua a percorrer o caminho da vida de Thomas Cromwell, da sua história e da época em que viveu. E fá-lo com total mestria. Fascinante em muitos aspectos, este é um livro surpreendente, cativante e, claro, muitíssimo bem escrito. Brilhante, portanto, em todos os aspectos.
Comecemos pela escrita. Hilary Mantel tem uma voz muito própria, elaborada, num estilo peculiar. Esta voz, familiar já para quem leu Wolf Hall, confere, inicialmente, à leitura, um ritmo mais pausado, mas, uma vez assimiladas as suas particularidades, torna a narrativa fascinante. Poética nos momentos certos, com um ritmo invulgar e uma adaptação muito precisa aos diferentes cenários e perspectivas, tudo na forma como este livro está escrito revela o seu brilhantismo, desde os momentos mais solenes aos traços de um humor que é também peculiar.
Esta mestria na construção do texto estende-se também ao desenvolvimento da história. Neste livro, tudo é relevante, sejam os grandes acontecimentos e as pequenas conversas. E isso vai sendo insinuando ao longo do texto, mesmo que, nalguns casos, a sua importância só se revele mais tarde. Além disso, todo o enredo é interessante, desde a história do rei, às intrigas das quais Cromwell é o centro, passando pelo desenvolvimento completo e claro do contexto em que tudo decorre. Contexto que não se resume a nomes e a eventos, mas que abrange até hábitos do quotidiano.
Ainda interessante é o desenvolvimento das personagens, de entre as quais sobressai Cromwell, como seria de esperar, mas em que todos os elementos são bem desenvolvidos. Neste livro, todas as personagens são complexas, com motivos e pensamentos associados a pensamentos, palavras e acções. Também isso torna a história mais viva, já que é fácil imaginar estas personagens tal como teriam sido no seu tempo e na realidade.
Tudo é, portanto, fascinante neste livro, desde a complexidade das personagens à intensidade que os momentos ganham, moldados pela tão expressiva e tão própria escrita da autora. Por tudo isto, O Livro Negro não desilude e fica na memória bem depois de terminada a leitura. Brilhante, pois.
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