Reminiscências de uma viagem através do litoral inglês, que servem de base a um desfiar de memórias, ideias e conhecimentos, num sem fim de referências e de percursos de vida, dão forma a Os Anéis de Saturno, um livro em que as ideias e as recordações individuais abrem caminho para uma análise - sempre pessoal, mas expandindo-se para o mundo circundante - de lugares, vidas e obras. Um livro que, vasto e conteúdo, e complexo na forma como este é desenvolvido, se torna bastante difícil de classificar.
Nem um romance nem uma autobiografia, nem sequer exactamente um livro de viagens, este livro conjuga elementos de múltiplas formas literárias, num resultado que é, em muitos aspectos, difícil de definir. Das memórias de um lugar, o autor parte para a análise de elementos históricos, de figuras históricas e literárias mais ou menos conhecidas e de certos episódios particulares das suas respectivas históricas. E tudo isto é feito ao ritmo do pensamento, não com uma organização definida, mas no que parece ser a evocação da memória.
Sabendo isto sobre o livro, é evidente que nunca será uma leitura fácil. Há toda uma vastidão de referências a assimilar, e a forma como são apresentadas, à medida que ocorrem ao pensamento do autor, exige do leitor uma total atenção, sob pena de perder de vista a linha do raciocínio. Além disso, a própria escrita, com uma voz muito própria e algo elaborada, exige também essa atenção.
Não sendo, pois, propriamente uma leitura leve, este livro é, ainda assim, uma obra muito interessante. Isto deve-se, desde logo, à tal voz própria em termos de escrita, mas também aos muitos elementos interessantes que vão sendo desvelados ao longo do texto, quer pelo reconhecimento das figuras em causa, quer pelos aspectos mais particulares de uma história, quer ainda pela forma sempre pessoal, mas abrangendo o mundo em volta, como o autor constrói as suas "notas". Há muito a descobrir neste livro e, se a leitura exige, de facto, tempo e atenção, também é certo que é bastante compensadora.
Ainda uma nota para a forma como as fotografias complementam o texto, nem sempre numa relação imediata, mas sempre acrescentando algo ao que é explanado no texto. Nalguns casos, permitem uma melhor compreensão do que o autor expõe, enquanto que, noutros, tornam os cenários mais reais. Em qualquer das situações, funcionam como um complemento valioso para o texto.
Difícil de classificar e exigente em termos de leitura, Os Anéis de Saturno é uma obra que leva algum tempo a assimilar em pleno. Mas é também um texto muito rico, quer a nível de escrita, quer no que respeita às muitas referências que contém. E, por isso mesmo, um livro muito interessante.
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