quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Rapariga-Corvo (Erik Axl Sund)

Quando o cadáver do primeiro rapaz é encontrado, as perguntas que surgem são bem mais que as respostas. Mas isso não impede que Jeanette Kihlberg se lance imediatamente ao trabalho. Os sinais de violência são mais que evidentes e, por isso, Jeanette e a sua equipa focam a sua atenção em possíveis agressores cujos actos anteriores os tenham já colocado sob atenção policial. Mas, enquanto barreiras surgem de onde menos se espera e novos corpos são encontrados, muitas das pistas parecem dar em nada. O mistério parece não ter solução. Entretanto, uma das pistas coloca Jeanette em contacto com a psicóloga Sofia Zetterlund. Sofia tem em mãos dois casos que a entusiasmam e um deles parece ser quase uma obsessão. Mas quando o trabalho e as investigações das duas mulheres se cruzam, há algo mais que desperta na ligação entre ambas. E segredos que começam a vir à superfície...
De tudo o que de bom há neste livro, e é bastante, o que mais marca, desde o misterioso início até ao final surpreendente, é a forma como o enredo abre caminho para o que se passa na mente das personagens. O centro da história é um conjunto de crimes, mas toda a sua evolução gira em torno das razões e interpretações, o que coloca a apresentação dos acontecimentos sob uma nova perspectiva. Além disso, ao acompanhar os pontos de vista de Sofia e de Jeanette, tanto na vida profissional como na pessoal e através de uma evolução cheia de surpresas, constrói-se para a narrativa todo um conjunto de possibilidades, quer a nível do que se passa na mente das personagens, quer no que daí se transmite para as suas realidades.
Toda esta abordagem aos labirintos psicológicos das personagens contribui para tornar a história intrigante e, ao mesmo tempo, perturbadora. Os elementos do passado levam a questionar os motivos e os episódios de crueldade para com inocentes, ao mesmo tempo que definem a personalidade actual das figuras mais relevantes do enredo. A partir daí, criam-se mistérios, insinuam-se suspeitas e levantam-se vastíssimas possibilidades. E, à medida que respostas mais ou menos surpreendentes vão sendo dadas, surgem novas questões, prometendo muito de bom também para o que fica ainda em aberto.
Ainda um outro aspecto que importa referir é que, apesar das diferentes perspectivas e das reflexões que lhe estão associadas, o ritmo do enredo é, ainda assim, bastante intenso, com uma forte tensão psicológica a manter constante a curiosidade em saber mais, ao mesmo tempo que a forma de escrita, envolvente, em capítulos curtos, mas com uma voz que facilmente se associa às personagens, prende, desde o início, a atenção. Tudo isto resulta numa leitura viciante e que encerra com um final que deixa muita vontade de ler os volumes seguintes.
Intenso e perturbador, viciante e surpreendente, este é, pois, um livro que se entranha na mente do leitor. Com personagens e acontecimentos surpreendentes, e com uma visão fortíssima de parte das profundezas da mente humana, uma história que fica na memória. Muito bom.

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