Vivem-se tempos conturbados, com a iminência da morte do rei e uma sucessão que se afigura pouco benéfica aos interesses do reino. E, na casa de D. Henrique, nobre de elevada posição, outras mudanças se anunciam. Os filhos, Henrique e Luís, não podiam ser mais diferentes, com o primeiro a primar pela bondade e pela nobreza e o outro a definir-se por um egoísmo sem escrúpulos. E, quando o coração de Henrique o puxa para uma jovem criada, o olhar de Luís segue o mesmo caminho, ainda que apenas para retirar do alcance do irmão o que este mais deseja. Traçam-se intrigas na sombra. E, com a guerra a requerer ao reino os seus melhores homens, Maria fica exposta ao perigo na única casa que alguma vez conheceu...
É difícil não ficar com sentimentos ambíguos ao ler este livro. Por um lado, o potencial é vastíssimo, a história é cativante e tem alguns momentos realmente promissores e a ligação das personagens, com o conflito entre irmãos e o enquadramento da história principal nas bases históricas, cria uma boa base para um enredo que tinha tudo para ser memorável. Por outro lado, muito disto se perde com a forma algo apressada de narrar alguns momentos, mas principalmente, com as evidentes falhas a nível de escrita.
Falando primeiro do lado bom. A caracterização das personagens, com as diferenças de carácter entre os dois irmãos, mas também com a separação entre classes sociais, cria, desde logo, uma boa base para a empatia. Não é propriamente surpreendente o rumo que as coisas tomam, mas há no percurso o potencial para uma boa história e há, efectivamente, alguns momentos de grande intensidade. Além disso, sobressai como particularmente a ideia de pegar no contexto histórico da ascensão do Mestre de Avis e, a partir daí, contar uma história com personagens que, tendo a sua própria história, acabam por estabelecer uma relação com o cenário global. Junte-se a isto o conjunto de intriga, conflito e emoção e todo o potencial para uma boa história está lá. A linha dos acontecimentos é interessante, há emotividade quanto baste e, mesmo que a conclusão não seja surpreendente, não deixa de ser adequada ao percurso que conduziu até lá.
Quanto à forma de contar a história, sobressaem as fragilidades. Há episódios que, por serem demasiado sucintos, perdem parte do impacto emocional e outros de que fica a impressão de que mais haveria a dizer. Mas o grande problema prende-se com a escrita propriamente dita e com a falta de uma revisão atenta. Erros ortográficos, pontuação confusa, gralhas frequentes... Tudo isto prejudica o ritmo da leitura e acaba por retirar muita da envolvência que esta história podia ter.
A impressão que fica, pois, deste livro é a de algo que poderia ter sido muito bom com um pouco mais de atenção à escrita. Com boas personagens, uma base interessante e muito potencial, acaba por ter muito do que faz uma boa história. Mas fica muito aquém na forma como é contada.
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