Há dezoito meses que Saffron está a tentar lidar com a morte do marido... e com o segredo que carrega. Mas, enquanto luta, todos os dias, para viver com a perda e manter algum controlo sobre a sua vida, novos choques vêm abalar o seu mundo. Phoebe, a filha de catorze anos, está grávida e recusa-se a falar com ela sobre o que devem fazer. E, a juntar à culpa e à revolta que a consomem, a máxima causa da sua dor prepara-se para invadir a vida de Saffron. A primeira carta é quase como uma estranha confissão. Mas, mais do que isso, vinda de quem tem o sangue de Joel nas mãos, é o início do fim de uma obsessão perigosa. Depois de dezoito meses a sofrer com a perda do marido, Saffron tem de regressar à vida... por ela e para proteger aqueles que mais ama.
Tendo em conta a premissa deste livro, era de esperar, à partida, uma boa dose de emoção e, dada a existência de um crime, algum elemento de mistério. O que talvez não fosse tão expectável é a forma como esses dois elemento se cruzam, numa história que tem tanto de emotividade como de tensão e que, por isso, facilmente se torna viciante. Do lado emotivo, pelo muito marcante retrato da perda e de toda uma série de escolhas difíceis que surgem em consequência dela. Do mistério, pela forma impressionante e perturbadora como o autor das cartas invade a vida e a possível paz de Saffron.
O que mais surpreende, por isso, neste livro é precisamente este equilíbrio entre um lado mais sentimental, com possibilidades românticas e dramas familiares, com uma bastante impressionante situação de perigo. Ambos são, por si só, partes muito interessantes que, conjugadas, resultam num enredo ainda mais cativante. Para isto contribui também a escrita da autora, descritiva quanto baste, mas sem nunca se tornar demasiado elaborada, e especialmente expressiva nas reflexões e sentimentos das personagens. Sendo de destacar, aliás, neste aspecto a capacidade de, em cartas breves, transmitir na perfeição a personalidade perturbada da personagem que as escreve.
Ainda um outro ponto marcante em tudo isto é que, entre as questões familiares, a perda e o perigo, a história acaba também de ser a da jornada de superação de Saffron relativamente aos seus problemas e dificuldades. Há, na verdade, um percurso de crescimento que não é apenas o de viver para além da dor, mas o de superar velhos traumas e distúrbios secretos. E tudo isto vai sendo revelado de forma gradual, levantando questões pertinentes (sobre as escolhas de Saffron, mas também sobre o comportamento e as lições dos que a rodeiam) e deixando que seja a história a levar à ponderação. Porque, no fundo, é da história que se trata e é a partir dos acontecimentos (e não de discursos) que se retiram as melhores mensagens.
Comovente nos grandes momentos e sempre cativante, Os Aromas do Amor apresenta uma história que é tanto a de uma perda e das suas consequências como a de uma ameaça escondida nos segredos do passado. Emotivo e intrigante, um livro que fica na memória. Muito bom.
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