No seu trabalho como médium, com alguns serviços adicionais a outro tipo de clientes, uma mulher recebe uma cliente invulgar. Não sabe explicar porquê, mas sente que Susan é diferente de todas as outras mulheres nervosas que ajudou - ou fingiu ajudar. Mas, ao ver-se perante a casa que Susan julga ser a fonte dos seus problemas, também ela sente algo de maligno ali presente. E, ao começar a sua busca por respostas, encontra-se perante uma situação de vida ou morte. Ou será que não?
Sendo esta uma história bastante breve, tendo sido, aliás, publicada com outro título na antologia Rogues (editada por George R.R. Martin e Gardner Dozois), não é, à partida, de esperar uma grande complexidade em termos de desenvolvimento de personagens. Mas é precisamente aqui que começam as surpresas. Desde a protagonista à sua cliente, passando pelo adolescente problemático que parece estar na base de toda a situação, a autora constrói para cada personagem uma base que, não sendo particularmente elaborada, torna as suas personagens perfeitamente definidas. E isto sobressai porque, tendo em conta o rumo da história, é impressionante a forma como as versões de cada personagem, a cada momento, parecem perfeitamente credíveis.
Ora, tendo isto em conta, o outro aspecto a destacar-se é precisamente a sucessão de reviravoltas a surgir numa história tão curta. Desde o possível elemento sobrenatural às explicações mais mundanas para o que está a acontecer, a autora passa de possibilidade em possibilidade com uma naturalidade impressionante. E, assim, conduz o leitor de surpresa em surpresa até um ponto em que praticamente tudo parece possível.
Tudo se encaminha, portanto, para um turbilhão de surpresas, num enredo em que, narrado num tom que se adapta perfeitamente à aura de mistério da história, tudo é intenso e tudo é surpreendente, culminando num final também ele inesperado. É que não é que a autora deixe muitas perguntas em aberto. Fica quase tudo em aberto, não por haver falta de respostas, mas por haver várias respostas possíveis. O resto fica à imaginação do leitor, o que, apesar de uma certa curiosidade insatisfeita, acaba por resultar numa conclusão estranhamente adequada.
Breve, mas intenso, com um enredo muitíssimo bem construído e uma escrita que facilmente transporta o leitor para dentro dos acontecimentos, trata-se, pois, de um livro que, apesar das relativamente poucas páginas, contém em si todos os elementos necessários para proporcionar uma leitura memorável. Muito bom.
Título: The Grownup
Autora: Gillian Flynn
Origem: Aquisição pessoal
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