Tudo começa com o que parece ser um milagre. Um homem que invade a missa papal, causando reverência a todos os presentes e que ordena ao papa, há muito preso a uma cadeira de rodas, que se levante. E a quem o papa obedece. De imediato, o caos e a especulação tomam posse do mundo. Nos dias seguintes, outros milagres acontecem. Há cegos que voltam a ver e doentes que são curados. Mas estará ainda tudo isso relacionado com a chegada do estranho? Nem todos pensam assim. E quando o jornalista Alexander Trecchio encontra uma das suas possíveis fontes sobre o assunto morta na própria casa, o lado mais negro da situação começa a vir à superfície. Serão estas curas um milagre? Ou a face visível de uma conspiração mais negra?
Com os mesmos protagonistas de Génesis, mas uma história completamente independente, este é um livro que tem, apesar de tudo, muitas características em comum com a sua prequela. A escrita directa, em capítulos relativamente curtos, alia-se à alternância entre várias perspectivas para criar uma história em que há sempre algo para acontecer, ou na iminência disso, mas em que os pensamentos, emoções e motivações das personagens são sempre muito claras. Mas, sendo a conspiração na base desta história muito mais vasta que a de Génesis, esta diversidade de perspectivas acrescenta ainda um outro ponto de interesse, pois é possível ver a construção da teia. O planeamento, as acções levadas a cabo e, do outro lado, as dúvidas e suspeitas que se lhe opõem.
Ora, este tecer da intriga faz com que o livro arranque a um ritmo mais pausado, ainda que sempre intrigante, passando depois a um crescendo de acção, no momento em que, tornadas claras as motivações e os planos, a acção é posta em marcha e o embate final se aproxima. Claro, há sempre momentos de perigo e de mistério espalhados ao longo de todo o enredo. Mas a forma como tudo converge para um final tão intenso e algo de especialmente cativante.
E, se é verdade que o enredo se centra sobretudo na história de uma conspiração, há, ainda assim, outras facetas que, de forma mais discreta, mas igualmente relevante, representam, ainda assim, forças em colisão. Ciência e religião, crença e racionalidade são forças aparentemente opostas que estão sempre bem presentes no decorrer desta história. E, sendo particularmente evidentes, na forma de vida dos dois protagonistas, surgem também, mais discretamente, nos actos e nas motivações de outras personagens. Também isto torna a história mais interessante, pois realça as motivações dos vários intervenientes.
Ficam algumas questões em aberto, não tanto sobre a base do enredo, mas sobre o papel de algumas personagens secundárias no rumo dos acontecimentos. Não são, na verdade, factos essenciais à história, mas, tendo em conta as circunstâncias, seria interessante saber um pouco mais sobre as repercussões do final para personagens como os chefes de Alexander e Gabriella. E quanto à forma como tudo termina para o estranho... Bem, nesse aspecto, a forma como o autor encerra a história, deixando as medidas certas de expectativa e conhecimento, não podia ser mais adequada.
Somadas todas as partes, fica a ideia de uma leitura intensa e cativante, em que, de uma teia de intrigas sobre o racional e o milagroso, emerge uma perspectiva estranhamente fascinante sobre as questões da religião e da fé. Envolvente, de leitura agradável e surpreendente em todos os momentos certos, uma boa história.
Título: Dominus
Autor: Tom Fox
Origem: Recebido para crítica
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