Dizem que aquela ilha é o paraíso na Terra e que o resto, o mundo, é impuro e corrompido. E, por isso, os berlengueiros vivem de forma diferente, mais simples, mais pura. Giovana não vive na ilha, mas é berlengueira de coração. E está prestes a encontrar um novo motivo para amar aquele lugar tão especial. Tudo começa com uma voz, a de um homem que lhe salvou a vida e que vem a descobrir ser o novo faroleiro. É também um homem muito mais velho, mas isso não é impedimento para os sentimentos fortes que começam a nascer. Mas, num meio tão fechado como o da pequena ilha, tudo se diz e ainda mais se inventa. E pode não chegar a beleza de um paraíso terreno para apagar as feridas do ciúme e da dúvida.
Ao mesmo tempo história de um amor sem idades e retrato das peculiaridades da vida nos meios mais fechados, este é um livro que começa por despertar alguma confusão, para depois, aos poucos, ir revelando a sua força. No início, a alternância de pontos de vista entre os dois protagonistas e entre primeira e terceira pessoa, bem como a escrita que, ora descreve lugares, ora acções, ora pensamentos pessoais, exige um pequeno esforço de assimilação. Até que, depois, passada a confusão inicial, as emoções ganham vida.
Sendo, no essencial, uma história de amor (com todos os ímpetos e mal-entendidos que lhe estão associados), este é um livro que vive muito dos sentimentos. Assim, é nos momentos mais emotivos que se encontra a sua grande força: os momentos de paixão, as barreiras que se erguem entre os dois amantes, o que os move à união ou à distância... Há algo de cativante em tudo isto e, mesmo nos momentos mais previsíveis, a envolvência do enredo é preservada pela emoção.
Mas, mais do que aquilo que une - ou separa - as personagens, é a forma como esta história pessoal se entrelaça na outra, a das gentes da ilha, que dá origem aos momentos mais interessantes do enredo. É que a forma como os habitantes da ilha falam dos protagonistas, a maneira como interferem no seu percurso, torna-se, por vezes, determinante no que se seguirá. E se é inevitável uma certa frustração ante viragens facilmente evitáveis com uma simples conversa, também é certo que às vezes é mais fácil acreditar naquilo que é dito. E, num meio pequeno, em que todos sabem (ou pensam saber) tudo sobre todos, a interferência é quase inevitável.
E tudo se encaminha para um final que, mesmo não sendo propriamente inesperado (ou não houvesse, desde o início, uma premonição bem presente), não deixa, ainda assim, de ser muito marcante. Um fim em que nem tudo se resolve - nem para os protagonistas, nem para alguns outros intervenientes - mas onde fica uma base de esperança (e o toque perfeito de justiça poética) a deixar o resto à imaginação do leitor.
Cativante e emotivo, trata-se, pois, de um livro em que amor e emoção são figuras centrais. E em que a paixão de uns e a forma de a ver por parte de outros reforçam, acima de tudo, duas ideias: primeiro, que o amor não tem idade; e, segundo, que não compete a ninguém julgar. Interessante e agradável, uma boa leitura.
Título: Naquela Ilha
Autora: Ana Simão
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário