Eleanor é a miúda nova na escola e, como tal, o alvo preferencial de quase todos. Além disso, o seu aspecto invulgar não ajuda nada. Park também não é propriamente um miúdo popular, mas aprendeu a sobreviver sendo invisível. Mas tudo muda quando os seus caminhos se cruzam. Primeiro, não parece haver grande simpatia entre ambos e até uma troca de palavras parece difícil. Depois, Eleanor começa a espreitar para a banda desenhada que ele vai a ler no autocarro. E, sem dar por isso, a indiferença transforma-se em cumplicidade... e em amizade... e em algo mais. Mas parte da estranheza de Eleanor tem uma explicação sombria. E aproxima-se o tempo em que alguma coisa vai ter de acontecer.
Alternando entre os pontos de vista dos dois protagonistas e escrita com a relativa simplicidade que é de esperar da sua juventude, é na simplicidade com que tudo é contado, das emoções aos dramas familiares, que se encontra o lado mais cativante desta história. Nem tudo é tão simples como parece e há problemas bem evidentes na vida dos protagonistas, mas a percepção de um casal de jovens numa fase em que tudo é muito simples ou muito dramático faz com que tudo - simples ou complexo - seja sempre visto com a máxima clareza possível.
Ora, isto tem vantagens e desvantagens. A desvantagem é essencialmente a de que, sendo essencialmente a história de dois jovens a apaixonar-se, as outras questões passam por vezes para um plano muito secundário, o que faz com que a situação familiar de Eleanor e a forma como tudo se resolve pareçam um pouco repentinas e com algumas pontas soltas. Já a vantagem é que, no mundo real ou na cabeça dos protagonistas, há sempre algo de interessante a acontecer, o que, associado às passagens curtas e à escrita directa, dá à narrativa um ritmo muito envolvente.
Nem sempre é fácil gostar das personagens. Há vários mal entendidos entre os protagonistas e alguns deles não seriam assim tão difíceis de resolver com uma conversa. E quanto aos que os rodeiam, há algumas personagens puramente detestáveis. Mas a verdade é que estes servem o seu propósito. Alguns chegam até a redimir-se. E, quanto aos protagonistas, as imperfeições realçam os pontos bons. E esses vão-se revelando aos poucos, à medida que as próprias personagens se conhecem um pouco melhor a si mesmas.
Fica, nalguns aspectos, a sensação de que mais haveria a dizer. Mas, com o seu ritmo envolvente e a muito interessante mistura de sombra e luz, inocência e experiência, que caracteriza o percurso dos protagonistas, a verdade é que a história cativa desde muito cedo e não deixa de surpreender até ao fim. E isso basta, seguramente, para fazer dela uma boa leitura.
Título: Eleanor & Park
Autora: Rainbow Rowell
Origem: Recebido para crítica
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