Leon tem nove anos e um irmãozinho que adora a cima de todas as coisas. Está habituado a tomar conta de Jake e também da mãe. Mas as coisas têm vindo a ficar cada vez mais difíceis, até ao ponto em que Leon não tem alternativa a não ser ir pedir dinheiro emprestado a Tina, vizinha e amiga da mãe. É então que tudo muda. Leon e Jake são levados para uma casa de acolhimento, onde Maureen os recebe com toda a ternura de que é capaz. Mas Jake é um bebé e Leon não. Jake é branco e Leon não. E, por isso, Jake é adoptado... e Leon não. Incapaz de se conformar com a ideia de ter perdido o irmão e a mãe, Leon elabora um plano para os voltar a juntar. E, pelo caminho, vai conhecendo pessoas diferentes... e descobrindo que a vida nunca é tão simples como parece.
Narrado na primeira pessoa, mas do ponto de vista de Leon, este é um livro que cativa, acima de tudo, pelos contrastes. Contrastes entre a forma inocente como Leon vê as coisas e as duras verdades que estão subjacentes àquilo que vê, entre a quase ternura dos momentos de afecto e a realidade cruel do que está a acontecer nas ruas. E, acima de tudo, entre o Leon inocente que tomava conta da mãe e do irmão e o Leon que, aparentemente mais protegido, se vai cada vez mais ancorando na realidade pura e dura.
Há, por isso, muito em que pensar neste livro. E, se é verdade que, ao centrar-se na perspectiva de Leon, a autora deixa algumas perguntas sem resposta (sobre a vida de Jake, mas também sobre o que se passa com personagens como Juba e o Sr. Devlin), também o é que esta visão centrada no olhar de uma criança permite uma visão mais clara das grandes questões que vão surgindo: a questão do racismo, desde logo, mas também do funcionamento dos serviços sociais na época em que decorre a narrativa e a forma como cada decisão acaba por ter impacto na vida de uma criança.
E há em tudo isto um estranho equilíbrio. Ao contar a história na terceira pessoa, a autora cria a impressão de um olhar exterior que vê as coisas a acontecer, mas a perspectiva é sempre a de Leon, o que realça a tal inocência, a descoberta do mundo em toda a sua injustiça, o impacto que até as pequenas coisas têm sobre o protagonista. E deste registo aparentemente simples, centrado tanto nas grandes descobertas como nos pequenos pormenores práticos, surge algo de mais importante, de universal. Porque na história de Leon, com todos os seus sonhos e planos e dramas e desilusões, há muitas coisas capazes de emocionar.
Ficam perguntas sem resposta? Sim, como na vida também ficam. E, assim, a imagem que fica é a de uma história tão dura como inocente, tão inesperada como cativante, tão perturbadora como comovente. Vale a pena ler este livro, sim. Vale a pena conhecer o Leon.
Título: O Meu Nome é Leon
Autora: Kit de Waal
Origem: Recebido para crítica
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