A vida continua depois da perda. As barreiras do quotidiano continuam a surgir, mesmo quando tudo parece ter estagnado. E cada novo sucesso parece vir acompanhado de novas dificuldades e desafios. Marco tem de aprender a lidar com os seus medos e angústias. De descobrir formas de lidar com as mudanças do mundo. E de aceitar os inesperados com que a vida lhe atira...
Parte da beleza deste livro, tal como do anterior, na verdade, é a forma como reflete, através de percursos pessoais, problemas comuns a muitos seres humanos. A perda de um ente querido e a consequente solidão, as aspirações que não são partilhadas pelos dois membros do casal, a perda de um trabalho que se tornou identidade, os preconceitos e a necessária superação... é efetivamente um combate quotidiano o que esta história descreve. E é por refletir facetas do quotidiano de muitos que a história é tão cativante, mesmo nos elementos que deixa em aberto.
Também a nível visual há poderosos contrastes a realçar estas pequenas grandes lutas. Cenários luminosos e sombrios refletem o equilíbrio entre tristezas e alegrias. Os objetos que acompanham as partes mais introspetivas realçam o simbolismo das coisas que não são só coisas. E a expressividade nos rostos de traço relativamente simples enfatiza a melancolia desta história de vidas mais ou menos normais.
Ainda um último ponto a salientar tem a ver com o facto de as personagens não serem perfeitas. Sejam fantasmas do passado, indecisões presentes, mudanças impossíveis de aceitar ou meras explosões de mau feitio, todas as personagens tem o seu lado menos perfeito, o que as torna mais humanas e mais marcantes nas suas pequenas epifanias pessoais.
É uma história singular, mas feita de toda uma vastidão de questões importantes. Aparentemente simples, mas capaz de refletir a complexidade do mundo. E intensa no seu equilíbrio entre desolação e esperança, entre exasperação e ternura. Entre os desafios e as pequenas luzes do quotidiano da vida.
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