domingo, 22 de maio de 2022

O Fim dos Homens (Christina Sweeney-Baird)

Tudo começa com um caso do que parece ser uma doença incómoda mas não grave, como uma gripe ou algo similar. Mas os verdadeiros contornos do caso não tardam a revelar-se sob a forma de uma doença fulminante e mortal. Inicialmente, os primeiros casos são ignorados, o que permite uma propagação descontrolada da doença. E é então que tudo se torna claro: há uma nova peste a espalhar-se pelo mundo. E afeta exclusivamente os homens.
Parte do poderosíssimo impacto deste livro resulta dos inevitáveis paralelismos com a realidade recente. Não, não são muitas as semelhanças entre esta peste e a recente pandemia, mas coisas como a necessidade de tomar medidas impopulares, o abalo na vida das pessoas, as perdas e transformações e a diversidade de reações criam, de certa forma, um laço entre ficção e realidade. Além, claro, de suscitarem a inevitável questão de como reagiria o mundo perante uma pandemia de repercussões muito mais graves.
Outra das grandes forças deste livro está na multiplicidade de pontos de vista. Ao contar a evolução da doença e as consequentes reações através da perspetiva de várias personagens, a autora constrói um enredo muito mais completo e intenso, abrangendo momentos de grande tensão e outros de desespero, episódios dramáticos, tragédias e rasgos de esperança, pequenos rasgos de alegria e muito sacrifício e superação.
O que me leva a outro dos grandes prodígios desta história: a capacidade de refletir todas as facetas. Não é uma história de heróis perfeitos nem de união absoluta e perfeita na busca por uma resolução. É uma história de seres humanos, corajosos e cobardes, abnegados e egoístas, lutadores e pessimistas, esperançosos e desesperados. E estas características coexistem, por vezes, na mesma personagem, o que implica uma história de personalidades complexas, falíveis e nem sempre compreensíveis perante a maior das adversidades. Humanas, em suma.
E, claro, importa salientar que não é uma história de resoluções fáceis. Não o poderia ser, atendendo às circunstâncias. Mas é também isso que a torna tão real, o facto de tudo ser complexo e multifacetado, revelando o melhor e o pior das personagens e colocando-as perante escolhas inevitáveis de modo a refletir quem são e a refletir sobre o que se faz depois do impensável.
Intensa, angustiante, avassaladora, eis, pois, uma história passada no futuro, mas com laços de proximidade. E um livro que, através das suas circunstâncias dolorosas e das suas personagens multifacetadas, cativa, surpreende, abala e enternece, sempre nas medidas certas. Maravilhoso, em suma. E inesquecível.  

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