Longos, densos e elaborados, cruzando toda uma multiplicidade de cenários invulgares e de referências. Assim são os poemas que constituem este livro. Uma obra relativamente breve, mas complexa em inúmeros aspectos e que, devido à conjugação de elementos que tanto despertam fascínio como estranheza, deixa, terminada a leitura, sentimentos ambíguos.
Basta ler alguns versos para compreender que a leitura será tudo menos fácil. Frases elaboradas, imagens inesperadas e uma linha de desenvolvimento do poema em que ambientes abstractos, quase surreais, se conjugam com rasgos de concreto e evocações de outras histórias e de outras obras tornam o ritmo e o conteúdo dos poemas difíceis, por vezes, de acompanhar. Para isto contribui também a utilização de longas frases em francês e inglês, bem como pequenas expressões noutros idiomas, frases que dão ao poema um ambiente mais complexo, mas que o tornam também mais denso e difícil de seguir, o que, aliado a uma escrita que é, na generalidade, elaborada e feita de imagens peculiares, leva a uma impressão de confusão nalgumas partes do livro.
Há, por outro lado, momentos particularmente bons e frases que acabam por ficar na memória. O choque entre o concreto e o abstracto cria, nalgumas partes, um contraste poderoso e há imagens que surpreendem pelo impacto que têm, principalmente porque sobressaem de um texto que é, todo ele, complexo e elaborado. Acabam por ser essas imagens mais fortes, esses versos que ficam na memória, o que mais marca desta leitura e o mais compensador de toda a sua complexidade.
As impressões que ficam são, por isso, contraditórias, pois, a escrita elaborada, as imagens algo surreais e a vastidão de referências difíceis de reconhecer tanto se revelam fascinantes, nos melhores momentos, como simplesmente difíceis de entender. Fica, por isso, a impressão global de uma leitura interessante, com alguns momentos particularmente brilhantes, mas em que o labirinto das imagens se torna, por vezes, demasiado complexo.
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