quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Casa da Malveira (Rita Delgado)

Depois de anos de tribulações e de memórias queridas, a morte do mais estimado dos amigos leva Maria do Ó a escrever a história da Casa da Malveira e do que lá se passou. A história de um lugar onde Sebastian é o mais elegante dos anfitriões e o mais afectuoso amigo e onde se escondem intrigas, inimizades e conspirações. A história, ainda, de um caso que coloca a própria Maria do Ó, e alguns dos que lhe são próximos, perante a justiça e a condenação da opinião pública. E, por fim, da possível descoberta de um amor depois da perda e de todas as dificuldades. Maria do Ó conta histórias da sua vida e dos que dela fizeram parte. E a soma de todas essas histórias... é este romance.
Narrado na primeira pessoa pela protagonista, mas, apesar disso, com incursões pelos pensamentos e vivências de outras personagens, este é um livro em que muitos enredos se conjugam e onde, por isso, há sempre algo a acontecer, mas também uma teia de possibilidades que, por vezes, se torna difícil de seguir. Ao longo da narrativa, a autora segue o percurso de relações amorosas, de um caso de extorsão e das suas consequências, de uma vida social centrada na Casa da Malveira e, depois, do que sucede para além dessa vida e, ainda, dos elos familiares e das divergências entre diferentes personagens. Ora, a conjugação de tudo isto é um enredo que se perde entre múltiplas linhas, que tem, em cada um deles vários momentos bons e, em particular, um episódio brilhante, mas que, por vezes, se torna confuso.
Esta conjugação de múltiplas histórias, e a resultante impressão de confusão, é, provavelmente, o aspecto menos equilibrado. A escrita é envolvente, ainda que a forte componente descritiva dê à narrativa um ritmo pausado, e há inclusive algumas frases particularmente notáveis. Além disso, e apesar de um certo snobismo que cria distância relativamente a algumas facetas dos acontecimentos, Maria do Ó consegue ser uma personagem cativante. O que acontece é que, entre tantos acontecimentos e tantos elos conjugados, ficam algumas pontas soltas, ao mesmo tempo que, de episódio em episódio, certas partes do enredo que mereceriam mais destaque acabam por ficar esquecidas.
No meio de todas as linhas cruzadas e das personagens que, nos seus papéis mais ou menos ambíguos, se vão cruzando, há uma parte da história - e, acima de tudo, uma figura - que sobressai. Mais que qualquer outro interveniente, mais até que a própria Maria do Ó, Sebastian acaba por ser, com o seu carisma e as complexidades do seu percurso, a mais fascinante das personagens deste livro. É, também, a figura central do momento mais intenso do enredo e a base de uma situação que, por si só, bastaria para fazer com que a leitura valesse a pena. 
A impressão que fica, então, é a de uma história em que muitos acontecimentos se conjugam e que, por isso, se torna, por vezes, um pouco confusa, mas em que os grandes momentos compensam as pequenas falhas e as perguntas deixadas sem resposta. Uma boa leitura, portanto.

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