sexta-feira, 18 de julho de 2014

As Raparigas Cintilantes (Lauren Beukes)

Foi durante uma fuga desesperada que os passos de Harper Curtis o levaram à Casa. Aparentemente nada mais que um local em ruínas, mas, na verdade, um espaço de infinitas possibilidades, a Casa torna-se, para Harper, o caminho para a realização de uma compulsão terrível. O seu destino - o que vê como a sua missão - é encontrar o brilho de algumas raparigas escolhidas... e apagá-lo. E a casa leva-o através do tempo para o fazer. Mas Harper está prestes a deixar de ser apenas o caçador. Algures num tempo que ele visitou, uma das suas vítimas sobreviveu. E transformou cada dia numa luta para encontrar o seu atacante. Agora, Kirby Mazrachi também tem uma obsessão. E não descansará enquanto não encontrar as respostas que procura.
Tendo em conta a premissa deste livro e a forma como desenvolve a questão das viagens no tempo, é de esperar, à partida, uma certa estranheza. O que talvez não seja tão expectável, e que, por isso, acaba por ser a primeira de muitas surpresas positivas, é a forma como a autora parte desse elemento para criar uma história em que os elementos mais improváveis do mistério apenas contribuem para o tornar mais intenso. Tudo nesta história é cativante e a estranheza inicial cedo dá lugar a uma imensa vontade de saber mais. Assim, o que começa por ser uma história cheia de perguntas de difícil resposta rapidamente se transforma numa leitura intensa e viciante.
Claro que há muito de peculiar neste livro. A própria introdução das viagens no tempo, sem verdadeiras explicações em termos de funcionamento, mas como um facto inevitável da história, cria, à partida, um elemento de diferença. Além disso, ao conjugar as possibilidades da Casa com as acções de Harper e as investigações de Kirby, a autora põe em evidência o mistério. Não são tão importantes os porquês de a Casa ser como é, mas antes a forma como abre caminho aos acontecimentos, esses sim implicando outro tipo de porquês relevantes.
A própria forma como a história vai sendo narrada inspira, em simultâneo, estranheza e fascínio. A autora oscila entre diferentes tempos e diferentes perspectivas, no que é também, de certa forma, uma viagem através do tempo. E, assim, vai dando pistas para o que virá, ao mesmo tempo que prolonga o suspense quanto às grandes revelações. Tudo isto dá forma a um enredo cada vez mais intenso, à medida que mais elementos vão sendo assimiladas e as grandes ligações se tornam visíveis. E, por fim, tudo culmina num final que, sem dar todas as respostas, mostra tudo o que é preciso, fechando o caminho essencial das personagens e deixando o resto à imaginação do leitor.
Intenso e intrigante, As Raparigas Cintilantes parte de uma premissa invulgar para construir um mistério cheio de surpresas. Sombrio, fascinante e, por vezes, perturbador, este é um livro que fica na memória. Muito bom.

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