Da juventude impetuosa de um homem destinado a ser rei aos últimos anos de uma velhice cansada e cheia de mágoas, esta é a história de um rei e de um homem, guerreiro impetuoso e homem de afectos ocultos. Das batalhas e das conquistas, mas também dos afectos e das perdas. Figura central do nascimento de um reino, Afonso Henriques não poderia deixar de ser uma figura complexa. E é como tal que é retratado na história contada neste livro.
Não sendo propriamente uma surpresa para quem já tiver lido outros livros da autora, uma das coisas que primeiro sobressai é o seu particular estilo de escrita. Não só pela estrutura invulgar, ainda que seja esta a primeiro chamar a atenção, mas também por um estranhamente equilíbrio entre momentos de quase simplicidade e outros que, mais elaborados, parecem evocar uma quase poesia. Esta forma invulgar de contar a história acaba por ser especialmente interessante tendo em conta que muito do caminho de Afonso Henriques é feito de batalhas e de conquistas. E que, havendo um vasto contexto histórico a percorrer, há inevitavelmente, uma componente descritiva considerável.
É, em grande parte, devido a este vasto contexto, do qual resulta também uma abundância de nomes e lugares a assimilar, que a narrativa acaba por fluir a um ritmo bastante pausado, exigindo concentração e alguma paciência para dar a todos os detalhes a atenção devida. Ainda assim, este ritmo mais lento e, ocasionalmente, um pouco distante, é contrabalançado pelos ocasionais momentos caricatos, pelas situações em que o tão contido afecto acaba por emergir e também pelo muito de interessante que há a nível de contexto histórico e de caracterização das suas figuras principais.
E depois há Afonso Henriques e a forma como a autora o caracteriza. Carismático, ainda que nem sempre de molde a despertar empatia, impetuoso, mas de uma determinação inabalável, o primeiro rei de Portugal surge aqui como uma figura poderosa, complexa e por vezes contraditória. Como rei, como guerreiro e como homem, o retrato de Afonso Henriques é complexo, enfatizando tanto qualidades como defeitos. Mas é precisamente isso que o humaniza e é precisamente essa complexidade que torna a sua história, tal como aqui é contada, tão interessante.
Cativante, ainda que de ritmo pausado, com uma base histórica muito bem desenvolvida e uma forma muito particular de narrar as coisas, Afonso, o Conquistador apresenta uma história envolvente, bem desenvolvida em termos de contexto e com um protagonista que, mesmo nos momentos de maior distância, não deixa de cativar pelo carisma com que a autora o descreve. A soma de tudo isto é, claro, uma boa leitura.
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