Escolhidos nos centros de detenção, onde deveriam ser executados ao completar dezoito anos, cem jovens são enviados para a Terra numa missão crucial - e nada voluntária. Há séculos, o planeta foi destruído por uma guerra nuclear e o único motivo da sobrevivência da humanidade foi um êxodo em massa para o espaço. Mas tudo indica que o tempo se está a esgotar e, por esse motivo, aqueles que deveriam ter sido mortos pelos seus crimes recebem uma segunda oportunidade. Na Terra, cabe-lhes descobrir se o planeta está em condições de ser habitado. Mas, tendo todos eles um passado pesado, será que lhes é possível encontrar alguma espécie de entendimento?
Acompanhando os pontos de vista de quatro das personagens mais importantes e centrado por isso nas suas perspectivas, este é um livro em que, apesar de um contexto global complexo e de vasto potencial, o que sobressai são as histórias pessoais. São estas, aliás, o cerne de toda a narrativa, já que o todo apenas se torna visível aos poucos, com os recuos das personagens ao passado e a percepção gradual das razões que os levaram às circunstâncias em que se encontram. Ora, isto tem duas vantagens. A primeira é a aura de mistério que, desde as primeiras páginas e ao longo de todo o enredo, mantém sempre viva a curiosidade em saber mais. A segunda é a assimilação gradual, ao longo de uma história em que há sempre alguma coisa a acontecer, de um cenário global com mais potencialidades do que à primeira vista seria de esperar.
Ainda que a história das personagens - ou da maioria delas - se defina pela necessidade de sobreviver num planeta possivelmente hostil, há, apesar disso, uma relativa dominância dos elementos pessoais. No caso de Clarke e Wells, as ligações passadas e a forma como isso influenciou a situação em que se encontram. No caso de Bellamy, a relação com a irmã. E, no caso de Glass, o segredo que traz consigo e que é mais vasto do que parece. Em tudo isto, há relações a morrer e a despontar, afectos possíveis ou destruídos, a possibilidade de um romance que talvez possa vir a acontecer. Mas também a tal luta pela sobrevivência que, nem sempre sendo o centro do enredo, está, ainda assim, bem clara nos grandes pontos de viragem.
Tudo isto abre caminho a uma sequência de revelações que culmina num final em que... quase tudo fica em aberto. Há avanços e recuos, descobertas úteis e novos perigos à espreita. E depois a autora encerra a história de uma forma que deixa a ideia de que, a seguir, tudo pode acontecer. Claro que isto deixa muitas perguntas sem resposta. Mas deixa também muita vontade de ler, o mais rapidamente possível, o volume seguinte, e a curiosidade em saber mais sobre o mundo e as circunstâncias em que este conjunto de personagens se move.
Leve quanto baste, mas intenso e intrigante, eis, pois, um livro que apresenta um conjunto de personagens interessantes, ainda que falíveis, e as faz percorrer um caminho em que, por entre todas as mudanças e revelações, há ainda muito de novo a descobrir. Um primeiro livro muito promissor, portanto.
Título: Os 100
Autora: Kass Morgan
Origem: Recebido para crítica
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