Quando lhe dizem que os avós vêm viver com ele, Jan quer fica contente, mas algo lhe diz que essa não é a reacção certa. É que algo se passa com a memória do avô e, embora Jan não queira realmente saber, todos os sinais estão lá. Enquanto os pais tentam protegê-lo - a prazo, como necessariamente tem de ser - Jan agarra-se às histórias e aos passeios com o avô. Mas primeiro perder-se-á a memória. Depois... E, mesmo sem querer, Jan começa a ver a difícil verdade.
Inocência e tristeza: todos os aspectos deste livro convergem para realçar estes dois elementos. Inocência, a inocência de Jan que conta a história, que se vê confrontado com uma perda aos poucos, mas talvez por isso ainda mais devastadora, que se agarra aos fragmentos da memória para confrontar a memória que se esvai. E tristeza, a tristeza da perda em si, do tempo que passa, do crescimento inevitável e do que se perde nos meandros da vida. Tudo isto reside no âmago deste livro, contado com toda a simplicidade que compete a um protagonista tão jovem - e, por isso, com o seu máximo impacto.
Sendo essencialmente uma história de tempo, e de tempo que se esgota, talvez não seja uma surpresa a relativa brevidade de cada momento. Mas também esta brevidade, que reduz cada episódio à sua máxima precisão, realça o impacto da história que conta. Das memórias de Jan, como dos sonhos que o atormentam, do que partilha com o avô e com os pais e de um quotidiano simples em que, face ao fim, tudo se torna memorável, emerge um retrato de vida que, sendo breve, abrange tudo. E a forma como, a partir destes fragmentos, a autora constrói um todo tão abrangente não poderia ser outra coisa que não memorável também.
Há também uma estranha harmonia nas palavras, um equilíbrio que nascido da breve simplicidade, faz com que tudo pareça ter a medida certa. É como se a história nascesse realmente das mãos do jovem Jan e, por isso, os seus sentimentos transbordassem. Não há grandes descrições e as instrospecções nunca são muito demoradas, mas a verdade é que está tudo lá e há poesia a surgir até nas mais pequenas coisas. E nas árvores, claro. Principalmente nas árvores.
Relativamente breve, mas absolutamente completa: assim é, pois, esta história de crescimento e de perda, em que o amor pode não vencer tudo - mas perdura, mesmo quando a memória não o faz. Muito bom.
Título: A Memória da Árvore
Autora: Tina Vallès
Origem: Recebido para crítica
Obrigado!
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