Há quem diga que o amor é efémero, que passa, que depende de nos amarmos em primeiro lugar, que pode desaparecer à primeira desilusão ou que é tudo menos fiel. A visão do autor é diferente. E, nesta longa declaração de amor a uma mulher desconhecida, praticamente tudo é questionado: ciúme, necessidade, confiança, amor-próprio, fidelidade, constância. Ao fundo, vislumbra-se uma mulher que só o autor parece conhecer verdadeiramente - mas é a mente do autor a base deste livro.
A primeira impressão que surge ao ler este livro - e também a que fica depois de terminada a leitura - é a de uma imagem feita de sentimentos contraditórios. Ora questiona lugares-comuns e generalizações, ora cai noutro tipo de generalizações. Ora recusa o amor-próprio para se abrir unicamente ao amor por outra pessoa, ora se demora na sua própria visão. E, no meio de tudo isto, fica uma impressão ambígua: a de haver, de facto, várias ideias relevantes, mas também algum exagero e alguns pontos de vista perigosos.
Faz todo o sentido, por exemplo, questionar a ideia de que só alguém seguro e confiante conseguirá alcançar o sucesso. Afinal, ninguém é perfeito. Já não faz tanto sentido o quase menosprezo com que parece falar de aspectos como a educação obtida nas escolas, pondo o amor acima de tudo e de todos - incluindo as outras facetas essenciais da vida.
Além disso, o livro tem um registo muito vincado, muito (demasiado) afirmativo, de quem tem todas as certezas absolutas e está, parafraseando algumas das afirmações, "rodeado de idiotas". Parece demasiada a certeza para quem fala de algo tão vasto como o amor e demasiado o isolamento resultante: é como se só o amor existisse no mundo e fossem essas duas pessoas contra o mundo. O que, tendo em conta a tão grande certeza de que "ninguém pode ser feliz sozinho" acaba por ser também um pouco estranho.
Não deixa de ter os seus pontos de interesse e, principalmente na forma como aborda os sentimentos negativos, há, de facto, alguns pontos de vista muito relevantes. Ainda assim, fica a sensação de que acabam por se perder um pouco no ciclo repetitivo de um amor que parece devorar tudo o resto, deixando para trás todas as outras forças do mundo. Além, é claro, de uma última surpresa no registo: é que o autor questiona múltiplas vezes os autores motivacionais - mas acaba por cair no mesmo tom quase imperativo de alguns desses autores.
Ficam, pois, os tais sentimentos contraditórios de uma leitura que contém, de facto, boas ideias - e alguns textos realmente marcantes - mas que se perde demasiado no ciclo fechado da sua própria visão. Interessante quanto baste, ainda assim.
Autor: Francisco Sexto Sentido
Origem: Recebido para crítica
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