Apesar da sua história delicada, Deirdre Fortnam leva uma vida alegre e protegida na plantação dos pais. O seu crescimento, porém, desperta algumas preocupações sobre o seu futuro. Por isso, quando o jovem médico Victor Dufresne entre na vida de Deirdre, parece ser uma solução caída dos céus. Victor e Deirdre amam-se e o facto de o futuro de ambos ter de ser em Saint-Domingue parece até uma bênção disfarçada. Mas também aí se vivem tempos de mudança e rebeliões começam a ganhar forma. E Deirdre encontrará paixão onde menos espera - uma paixão que não poderá continuar...
Apesar das evidentes ligações (e das personagens comuns) com A Ilha das Mil Fontes, esta é uma história essencialmente independente da anterior. Ainda assim, ganha um novo impacto conhecendo à partida o passado de algumas personagens. Deirdre e Jefe têm elos comuns e esses terão um papel fulcral na evolução dos acontecimentos. Além disso, é também interessante reparar nos paralelismos e nas divergências entre as histórias de Nora e Deirdre: caminhos diferentes, personalidades muito distintas, mas ambas em pleno ponto de viragem do mundo a que pertencem.
Os paralelismos não se ficam por aqui, claro, pois também nesta história o tema da escravatura desempenha um papel dominante. E é interessante a forma como a autora consegue acrescentar algo que diferencia às duas histórias ao mesmo tempo que realça as mesmas - e sempre pertinentes - questões. A vida em Saint-Domingue é diferente da da Jamaica, mas estão presentes o mesmo desprezo, a mesma crueldade... e as mesmas consequências, ainda que assumindo uma forma distinta. Tudo isto está subjacente à história central e reforça-lhe o impacto - pois compreender a vida das personagens e compreender também as condições e o contexto da época.
Mas passando à história. Uma das grandes qualidades dos livros de Sarah Lark é a naturalidade com que tudo parece fluir, ao ponto de nem as descrições mais extensas retirarem intensidade ao ritmo da narrativa. E também aqui há um cenário novo e regras novas, revelados de forma gradual e ao ritmo da percepção das próprias personagens. Há, pois, uma beleza e e uma fluidez naturais que facilmente nos transportam para o interior da história. E depois... Depois os acontecimentos fazem o resto.
O cenário pode ser idílico, mas nada - nem ninguém - é perfeito. E aqui está outra das grandes surpresas deste livro. Deirdre e Victor (e Jefe) estão muito longe de ser Nora e Doug. E, às vezes, não é tão fácil compreender as suas motivações. O impressionante é que, mesmo quando as escolhas são imperfeitas, quando não é difícil adivinhar que aquilo não vai correr bem, a história nunca perde a magia. A imperfeição humaniza as personagens. As consequências, essas, aumentam o impacto emocional. E no fim fica a sensação de uma longa e árdua jornada, feita tanto de sonhos e de esperanças como de queda e da redenção... possível.
Fica, pois, a mesma magia e o mesmo encanto, resultado de um mergulho profundo feito igualmente de beleza, de amor e de brutalidade. Uma história notável, em suma, com personagens marcantes e uma escrita que encanta desde as primeiras linhas. Belíssima.
Título: As Ondas do Destino
Autora: Sarah Lark
Origem: Recebido para crítica
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