Quando o dia terminar, nove pessoas ter-se-ão suicidado, enforcando-se numa ponte. Trinta e duas pessoas terão assistido. E ninguém entenderá. Não parece existir qualquer ligação entre elas. Nunca se viram antes. Mas uma misteriosa mensagem identifica-os a todos como membro de um estranho grupo. Não tarda a que comecem a ser referidos como um culto suicida, cujas acções e mensagem são replicadas por todo o mundo. Mas quem são? Como podem ser um culto se nunca se conheceram, se não existe um líder? E serão os únicos, os últimos... ou apenas nove de muitos?
Não existe neste livro uma única palavra ou ideia que não seja impressionante. Começa com o conceito - um culto suicida sem líder e cujos membros nunca se encontram. Depois, a voz da mente invisível por detrás de tudo isto - misteriosa, perturbadora, fazendo com que tudo pareça tão fácil que poderia acontecer em qualquer lugar. Em seguida, o próprio enredo, com o drama e a intensidade dos suicidos a contrastar com a devastação pessoal das muitas vidas envolvidas, com a precisão maquiavélica do criador e com a visão de um mundo onde algo assim poderia passar desapercebido durante tanto tempo. E, finalmente, a escrita, que parece gravar-nos na mente cada palavra e episódio com a mesma implacabilidade que o líder invisível utiliza com os seus alegados seguidores.
Tudo parece estar moldado num perfeito e absoluto equilíbrio. Ainda assim, isto não implica um enredo puramente racional. Há emoções fortes em toda a parte. Da aparente escuridão que move os diferentes membros do culto à perturbadora visão que deu origem a todos os actos deste suposto culto, tudo é intenso e inesperado. E há também fortes laços de empatia, o que é particularmente notável numa história que envolve tantas personagens.
Mas tudo tem de acabar, o que é também um facto muito importante no desenvolvimento desta história. Tudo é planeado com um derradeiro acto em mente, encenado pela mesma mente perturbadoramente itneligente. E, à medida que novas personagens se manifestam e novos e mais sombrios actos começam a correr, há também um crescendo de força e fúria que torna o final deste livro absolutamente devastador. E perfeito para tudo o que aconteceu antes.
Algo de importante aconteceu hoje. Li este livro. E, com a sua escrita brilhante, o seu equilíbrio preciso e avassalador entre a escuridão interior e exterior e um enredo tão misterioso e cheio de surpresas como a voz que nos conta a sua história, é, sem dúvida, um livro para nunca esquecer. Brilhante, impressionante, espantoso. Um verdadeiro prodígio.
Título: Nothing Important Happened Today
Autor: Will Carver
Origem: Recebido para crítica
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