Desde o seu primeiro dia de escola que Peter foi vítima dos ataques e provocações dos colegas, mas sempre contou com a sua única amiga, Josie Cormier, para atenuar um pouco o impacto. Mas o tempo passou e a amizade esbateu-se. Josie passou para o "outro lado" e Peter ficou mais sozinho do que nunca. E seria esse o princípio de um acto que abalaria a comunidade para sempre. Aos dezassete anos, Peter Houghton escolheria uma manhã de Março para pegar em quatro armas, entrar na sua escola... e começar a disparar. E esses dezanove minutos... mudariam tudo para todos.
Parte do que torna este livro tão memorável é a capacidade da autora de abordar um tema sério e globalmente relevante através da visão íntima e pessoal das suas personagens. Já todos ouvimos as histórias reais de tiroteios em contexto escolar e a forma como a autora parte deste cenário para construir a história dos seus protagonistas é particularmente equilibrada. E, assim, o resultado é uma leitura que, ao mesmo tempo que apela à reflexão sobre questões como o bullying, a facilidade de acesso às armas e o tipo de perturbação que pode desencadear acontecimentos destes, traça um percurso complexo, profundo e emotivo para as várias personagens que povoam esta história.
Esta complexidade não se resume ao tema, estando também bem presente na vida e no pensamento das várias personagens. Claro que grande parte do foco está nas vidas de Peter e Josie. Peter, atormentado pelo bullying constante, bem como pela sombra do irmão aparentemente perfeito, refugiando-se no seu mundo e no afecto imperecível por Josie para continuar a aguentar-se até à derradeira humilhação. Josie, disposta a fazer tudo para se tornar popular, até a deixar-se prender numa relação abusiva. E as suas famílias também. É aqui que a forma como a história é contada se torna também particularmente relevante, pois ao oscilar entre o que aconteceu antes do tiroteio e tudo o que veio depois, a autora traça o percurso das personagens não só no que conduziu àquele momento, mas também ao impacto que ele teve nas suas relações e estabilidade mental.
Há ainda um outro ponto que importa destacar, e que é também um factor de profundidade: a capacidade de despertar sentimentos complexos por todos os envolvidos. Seria fácil mostrar Peter como apenas o monstro que matou vários colegas, mas a autora constrói para ele uma história bastante mais vasta. Da mesma forma, a história da relação de Josie com o namorado mostra que também algumas das vítimas escondiam certas ambiguidades morais. E, tendo em conta o grande mistério que é revelado no final - e que vem acrescentar também um poderoso factor surpresa - esta ambiguidade e complexidade vem tornar toda a história muito mais intensa e surpreendente.
Poderoso nos temas, profundo na abordagem e cheio de intensidade e emoção ao longo de todo o percurso, trata-se, pois, de um livro que, apesar de relativamente extenso, nunca perde a força nem a envolvência. Dezanove minutos e o abalar de vidas inteiras... num equilíbrio perfeito e memorável.
Título: Dezanove Minutos
Autora: Jodi Picoult
Origem: Recebido para crítica
Olá Carla,
ResponderEliminarAdorei sua resenha, preciso ler esse livro. Quando li que tem o tiroteio fiquei chocada, é uma das ações que mais me tocam, mas também curiosa para ler.
Beijo!
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