sábado, 13 de março de 2021

Falar Verdade a Mentir (Almeida Garrett)

Antes de autorizar definitivamente o casamento da sua filha Amália com o seu noivo, Duarte Guedes, o senhor Brás Ferreira quer certificar-se da idoneidade do seu futuro genro. Só que Duarte tem um problema: não consegue parar de mentir, e o seu possível sogro está decidido a cancelar tudo se o apanhar numa mentira que seja. Felizmente, Duarte e Amália contam com dois aliados poderosos e, mesmo involuntariamente, Duarte vai descobrir que mentir é mais trabalhoso do que julga. Principalmente quando todos conspiram para que o que ele diz seja verdade.
Parte do que torna cativante um regresso a esta história é notar a diferença entre as impressões de uma leitura sequencial e sem dissecações de estrutura (não querendo, ainda assim, menosprezar a importância dessa análise) e a abordagem meticulosa da leitura em contexto escolar. Além, claro, de ironias que se tornam mais fáceis de entender com um olhar mais adulto. Em todo o caso, ler esta peça pelo simples prazer de a ler torna a leitura mais leve, o que, tendo em conta que se trata de uma comédia, é inevitavelmente positivo.
Pondo de parte os contrastes entre leituras diferentes, destacam-se duas coisas: a brevidade e (obviamente) o humor. A brevidade é natural, uma vez que se trata de uma peça de teatro. E ainda que, lida neste formato, deixe a vaga sensação de que mais haveria a dizer sobre estas personagens (a começar, desde logo, pela relação de Félix e Joaquina), a impressão que fica é sobretudo de que é muito fácil imaginá-la em palco, onde terá certamente um impacto maior.
Quanto ao humor, sobressaem as tiradas irónicas e a forma como toda a peça transmite uma belíssima lição de moral sem, contudo, soar maçadora ou moralista. Talvez as próprias circunstâncias contribuam para isso (com os pensamentos de Félix sobre o dote e as labirínticas mentiras de Duarte a proporcionarem alguns rasgos geniais). Mas também sempre se disse que a melhor forma de ensinar é pelo exemplo, e... bem... Duarte é, sem dúvida, bem ensinado.
Muito breve, mas cativante e sempre actual, eis, pois, uma leitura leve e divertida sobre os problemas da mentira e as formas imprevisíveis da verdade. E um livro que todos conhecemos da escola, mas a que vale sempre a pena regressar.

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