terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O Feitiço da Lua Azul (Joanne Harris)

Ela é uma criatura sem nome e é isso que lhe permite viajar na pele de todas as criaturas vivas. Selvagem e sem alma, é livre, como todos os que pertencem à gente viajante. Mas tudo muda quando o seu caminho se cruza com William, um jovem e belo nobre que lhe conquista o coração. Por ele, ela aceita sacrificar a sua liberdade e aceitar o nome que ele lhe deu, para que possam ficar juntos para sempre. Mas, por mais verdadeiro que seja o coração dela, o amor de William não o é. E, perdidas todas as esperanças, só há agora uma forma de ela recuperar a sua liberdade: vingança.
Com os seus capítulos curtos e uma aura de mistério que nasce logo nas primeiras páginas e se prolonga até ao fim, este é um livro que facilmente se torna viciante. Primeiro, pelo enigma da protagonista, cuja natureza peculiar desperta, desde logo, a vontade de saber mais. Depois, pelo crescendo de intensidade e de fúria que pauta a evolução do enredo, passando de um amor inocente à mais meticulosa das vinganças, sem nunca perder de vista a magia quase fantasmagórica que move as personagens. E finalmente a revelação de que, tal como tudo é mais complicado do que parece, também tudo parece ter um qualquer sentido - ainda que não seja o que inicialmente esperávamos.
Ao contar a história pela voz da protagonista, o livro acompanha essencialmente a sua perspectiva: o que se passa do lado de William, primeiro nos afectos e depois nas perseguições, é visto sempre pelo olhar parcial da narradora. Mas, embora isto imponha algumas limitações, não deixa de ser interessante notar que, dividida entre o amor e a vingança, a protagonista consegue ver as ambiguidades da situação. Sim, os seus movimentos são claros e há algo que sabe que tem de fazer - mas o amor permite-lhe ver o outro lado, ainda que não baste isso para a fazer recuar.
A própria escrita reflecte esta ambiguidade, pois realça na perfeição os sentimentos contraditórios que habitam a alma da protagonista. E mais: a forma como descreve a sua natureza, as transformações, o instinto selvagem que nunca se desvanece, realça o que ela e o seu povo têm de diferente, mas também o coração comum entre as coisas bravias e as coisas amansadas. Nada é linear, nem mesmo nos momentos mais previsíveis. E é também isso - associado, naturalmente, as belíssimas ilustrações - que torna a leitura tão cativante. 
No fim, fica a intrigante sensação de um equilíbrio de opostos: uma história sombria, mas que se percorre com estranha leveza, protagonizada por uma personagem capaz de despertar a máxima empatia, mas capaz também da máxima crueldade. História de amor e de magia, de inocência e de vingança, eis pois um livro que surpreende em todas as suas facetas. E que, viciante desde o início, fica na memória bem depois do fim.

Autora: Joanne Harris
Origem: Recebido para crítica

2 comentários:

  1. Fiquei com vontade de ler este livro. Nunca li nada desta autora, mas não faltam livros dela na minha lista para ler...

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  2. Terminei agora a minha leitura. Tal como todos os outros de joane Harris é fascinante!

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