Virgil Salinas é um rapaz com dificuldades em sair da casca, daí que a família lhe chame Tartaruga. Mas, embora lhe custe falar com a rapariga de quem quer ser amiga, o universo está prestes a intervir em seu favor. Tudo começa com uma coincidência - que faz com que Virgil, Valencia e Chet (o pior inimigo de Virgil) passem pelo mesmo local no mesmo dia. Seguem-se alguns problemas e mal-entendidos que acabam com Virgil a precisar de ser salvo e Valencia e Kaori (uma médium de doze anos) à procura dele no bosque. Porque, quando o universo conspira, as coisas acontecem. E, se Virgil não tem coragem para falar... então talvez precise de uma ajudinha.
É nas diferenças de personalidade entre as várias personagens que reside uma das principais forças deste livro. Nenhum dos principais intervenientes é o que se poderia considerar o habitual miúdo popular, mas, cada um à sua maneira - Virgil com a sua introversão, Valencia com os problemas auditivos, Kaori com a sua ligação ao espiritual e até mesmo Chet, que usa o comportamento de rufia para mascar o medo - todos deixam uma marca muito própria na história. Há, pois, desde logo uma mensagem positiva a retirar daqui: a diferença existe e é algo de natural.
Depois, há o enredo propriamente dito. Tudo parece girar em torno de uma espécie de destino - ou, pelo menos, de uma ideia de que o universo parece agir em favor do encontro de duas das personagens. Ainda assim, a história nunca se torna previsível nem demasiado mística - isto apesar dos peculiares talentos de Kaori. Muito pelo contrário. Se não é propriamente difícil prever a resolução da situação de Virgil no poço, já no que toca à ligação entre Virgil e Valencia, o final tem o seu quê de inconclusivo. E, se é certo que fica uma certa curiosidade insatisfeita acerca das questões deixadas em aberto, também o é que o essencial está lá. E faz um certo sentido, quando há tantas possibilidades pela frente, que muita coisa fique também em aberto.
Importa ainda referir a escrita, bastante simples, mas também bastante eficaz na forma como transmite as emoções das personagens. Os capítulos dedicados a Virgil são particularmente marcantes, mas há uma sensação global de que, para todas as personagens, há como que um abrir de portas para o seu mundo interior. Ora, sendo que todas as personagens têm pensamentos notáveis (com a excepção talvez de Chet, que serve, ainda assim, o seu propósito), esta visão precisa do que as move torna a história bastante mais cativante. Ao mesmo tempo, claro, que realça o que torna única cada uma destas personagens.
Trata-se, pois, de uma história relativamente simples, mas cheia de momentos marcantes e com uma mensagem muito positiva. Um livro sobre a unicidade de cada um - e também sobre o que nos torna corajosos. Gostei.
Título: Olá, Universo
Autora: Erin Entrada Kelly
Origem: Recebido para crítica
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